sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

AS PALAVRAS SILENCIOSAS


Foto: AS PALAVRAS SILENCIOSAS

Na década de 1970, o escritor peruano Julio Ramón Ribeyro reuniu dois volumes de seus contos sob o título de "La Palabra del Mudo" ("A Palavra do Mudo").  

O título é cheio de significado, desde o ponto de vista teosófico.  

Há palavras que surgem do silêncio e não possuem sílabas. Elas   contêm frases inteiras em si,  ainda que sejam inaudíveis .  

Existem mantras que só a alma escuta, e só a nossa consciência mais interna pode entoar. O essencial é invisível aos olhos, e é também inaudível e impronunciável.  Quem poderia ser tão eloquente quanto o mais completo silêncio?

Todos os sons existem dentro do silêncio eterno e cheio de significado e paz que eles interrompem por um momento, e que os rodeia em todos os casos. 

O silêncio da mente e da alma permite a percepção maior da vida, e esta percepção é a unidade. 

Vista desde o ponto de vista inferior, a percepção do silêncio que é paz poderia ser descrita como a libertação, a bem-aventurança.  

Vista desde um ponto de vista mais elevado, ninguém se atreve a descrever esta experiência com palavras  de algum idioma conhecido no mundo.

(Carlos Cardoso Aveline)

 

Na década de 1970, o escritor peruano Julio Ramón Ribeyro reuniu dois volumes de seus contos sob o título de "La Palabra del Mudo" ("A Palavra do Mudo"). 

 

O título é cheio de significado, desde o ponto de vista teosófico. 

 

Há palavras que surgem do silêncio e não possuem sílabas. Elas contêm frases inteiras em si, ainda que sejam inaudíveis . 

 

Existem mantras que só a alma escuta, e só a nossa consciência mais interna pode entoar. O essencial é invisível aos olhos, e é também inaudível e impronunciável. Quem poderia ser tão eloquente quanto o mais completo silêncio?

 

Todos os sons existem dentro do silêncio eterno e cheio de significado e paz que eles interrompem por um momento, e que os rodeia em todos os casos. 

 

O silêncio da mente e da alma permite a percepção maior da vida, e esta percepção é a unidade. 

 

Vista desde o ponto de vista inferior, a percepção do silêncio que é paz poderia ser descrita como a libertação, a bem-aventurança. 

 

Vista desde um ponto de vista mais elevado, ninguém se atreve a descrever esta experiência com palavras de algum idioma conhecido no mundo.

 

(Carlos Cardoso Aveline)
 
 
 
Mensagem publicada no Facebook
 
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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Vazio do Mundo das Formas

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Conta-se que em certa ocasião Ananda, o discípulo, pediu a Gautama Buddha que lhe ensinasse  a prática de samatha, de samapatti e de dhyana
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E Budhha ensinou. [1]  
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Só a prática correta leva à iluminação, e a disciplina espiritual, como toda verdadeira ação meditativa, está ligada à renúncia. O desapego, ou vairagya, é central em teosofia.  
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Vejamos, então, algo sobre estes três fatores da caminhada.
1) Samatha; é o estudo meditativo de tudo o que há como sendo vazio ou imaterial. 

O leigo pensa que as coisas e seres têm substância própria, mas eles não têm.

2) Samapatti; é o estudo meditativo de tudo o que há como sendo irreal, transitório ou temporário

Não é difícil perceber que todos os seres e objetos perceptíveis são impermanentes.  Inclusive aquele que observa o fato da impermanência.  No entanto, a essência do observador, a “testemunha interna”, permanece.

3) Dhyana; é o estudo meditativo da unidade entre os dois pontos anteriores.

A palavra “dhyana” é normalmente traduzida como “meditação”. Podemos definir meditação como aquela percepção pela qual compreendemos o caráter vazio e transitório de tudo o que nos rodeia externamente e de tudo o que experimentamos no mundo. Só a  Eterna Percepção, em si mesma, é real. Ela é uma função da consciência imortal do Eu Superior, que vive em unidade com a Lei da Justiça e da Renovação. Nesse caso, não se trata da percepção disso ou daquilo. Trata-se da percepção em si, sem objeto.

NOTA:

[1] “The Surangama Sutra”, Charles Luk / Lu K'uan Yu ,  Rider & Co., London, 1966, 262 pp., ver pp. 3 e seguintes.

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O breve artigo acima foi publicado pela primeira vez de modo anônimo em “O Teosofista”, edição de junho de 2010.

Veja, a respeito do mesmo tema, o texto  “Reflexões Sobre a Impermanência”, de Matias Aires. Ele pode ser localizado através da Lista de Textos por Autor,  em  www.FilosofiaEsoterica.com.

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Sobre a missão de Helena Blavatsky e do movimento teosófico autêntico, que envolve o despertar da humanidade para a lei da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
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A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de  2013 por “The Aquarian Theosophist”. O volume pode ser comprado através de Amazon Books.


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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A Aura e o Magnetismo do Ser Humano

www.FilosofiaEsoterica.com

 
Informe de uma Reunião em Londres
 
 
Helena P. Blavatsky
 
 
 


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Nota Editorial


A transcrição a seguir foi copiada por
Boris de Zirkoff do Livro de Atas da Loja
Blavatsky, e publicada no volume XIII dos
“Collected Writings” (Escritos Reunidos),
de  Helena P. Blavatsky, T. P. H., EUA,
1982, pp. 364-365. É dali que faço a tradução. 
 
Em relação à terminologia do texto, o leitor deve
levar em conta o fato de que em sânscrito Manas
significa “o princípio mental”, e Buddhi significa
a alma espiritual ou inteligência espiritual do ser
humano. Kama é a sede ou princípio dos desejos
animais. Kama-loka é o “local dos desejos”,  uma
das primeiras etapas do ciclo pós-morte. Kama-rupa 
é uma espécie de corpo sutil pós-morte, que habita
kama-loka. Devachan é o estágio superior e espiritual
do ciclo pós-morte. O sexto e o sétimo princípios são
respectivamente o princípio búddhico da alma espiritual e o
princípio átmico ou supremo e universal, no microcosmo que
é a aura de um ser humano. Mahatma é um ser que alcançou a
perfeição do ponto de vista do estágio atual da evolução humana.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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Em uma reunião em Maycott, em 16 de junho de 1887, surgiu uma discussão sobre a aura e o magnetismo do indivíduo humano.
 
O magnetismo, segundo foi dito, é uma emanação que surge de todas as coisas, da terra, da vida animal e vegetal. É uma coisa fisiológica, e  surge do prana, que é o princípio vital individual.  A aura é uma individualização de um Princípio Vital Universal (Jiva), e permanece com um ser humano apesar das suas trocas periódicas de estado e de planos de consciência.
 
A aura é o princípio do sentimento de simpatia e de antipatia ; é uma emanação de prana,  mas em combinação com manas e buddhi.  Em relação a isto, deve-se ter presente que a memória é o efeito de buddhi sobre manas. O processo de “ter influência psicológica” é realizado através do poder da vontade,   pela aura,  e também afeta a aura. 
 
Surgiu uma discussão sobre a diferença entre a vontade e o  desejo.  O desejo está relacionado com o êxito de um homem, mas menos que a vontade ou que o carma.  Fora do reino animal o desejo deveria surgir apenas de um dos princípios superiores. O desejo é um princípio kâmico, é Tifônico [1] , uma força perturbadora  que se opõe à vontade.  A vontade é uma emanação do sexto e do sétimo princípios. O desejo é uma energia que deve ser reprimida; quando sua energia é suprimida, é espalhada e vai para a energia universal, mas não se perde.  Ao reprimi-la, o homem não se liberta dela,  mas se transformada em atos ela flutua ao redor do seu pescoço na forma de Carma. 
 
Depois da morte o homem existe no Kama-loka, e está  enquadrado no Kama-rupa ou feixe de desejos.  O Kama-rupa impede os princípios mais elevados de passar inteiramente para o Devachan.  No momento da volta para cá,  o homem reencontra o carma do Desejo não-reprimido esperando por ele no limiar. Assim, o real castigo do Carma surge da presença de desejos que têm que ser reprimidos. Isso é feito por um esforço da vontade, que não é infinito,  e tem um princípio e um final. Mas a vontade é a manifestação de uma lei eterna que só pode ser apreciada em seus efeitos, e neste  ponto foi dito que vontade absoluta não é a mesma coisa que Vontade Cósmica. 
 
Assim, o homem, como  microcosmo, é dotado de livre-arbítrio ; mas ele é limitado pela ação de outros livre-arbítrios, sob a ação da lei da harmonia universal,  que é a Lei do Carma. A verdadeira função do poder da vontade é produzir harmonia entre a lei e o homem. Assim, o Mahatma,  como não tem desejo, está fora da esfera de ação do Carma ; a sua real condição está em harmonia com a natureza;  ele é o Carma, é seu agente, e portanto está fora do seu campo de ação. [2] Seu corpo físico, no entanto, ainda está dentro do seu campo de  atuação. Assim,  a  direção da vontade deve ser colocada no rumo da realização das aspirações individuais que são búddhicas, de modo que o quinto princípio intelectual  fique quase dissolvido no sexto princípio,  buddhi.  Essas aspirações podem ser chamadas de “vislumbres do eterno”.
 
A  consciência inferior reflete estas aspirações inconscientemente,  e mais tarde ela mesma passa a aspirar, e é  elevada, se as coisas estiverem de  acordo.  Uma tal aspiração seria uma tendência em direção à Teosofia; este instinto, se for desenvolvido, se tornará uma aspiração consciente.
 
Foi feita uma distinção entre obstinação, firmeza e vontade. A obstinação resulta de um obscurecimento da razão e pode ser comparada às duas metades do cérebro agindo em oposição, quando o trabalho é obstruído. A firmeza pode ser descrita como algo que resulta do equilíbrio entre as duas metades do cérebro.  É sobre esta  firmeza que a vontade se baseia, e a vontade  começa a funcionar a partir deste equilíbrio.
 
 
NOTA:
 
[1] Tifônico --  próprio de Tífon,  monstro da mitologia grega, “flagelo dos mortais”. (CCA) 

[2] “Fora do seu campo de ação”, segundo o registro escrito das palavras de HPB. O Mahatma está “fora do campo de ação da lei do carma que pode ser percebido pelo ser humano comum”; mas ele está perfeitamente dentro do campo de ação da lei do carma. Um Mahatma aprende. Ele tem sua própria fonte de inspiração. Ele erra e corrige seus erros. Ele expande sua consciência. Ele é um agente da lei do carma, como afirma HPB neste parágrafo, mas ele não é a lei ele próprio. A ilusão de que um sábio esteja “acima” ou “fora” da lei é uma das armadilhas mais terríveis do caminho espiritual. Exatamente devido ao fato de que os Mahatmas agem sob a lei do carma, os dois Mestres que inspiraram a criação do movimento esotérico moderno trabalhavam sob a supervisão rigorosa de um ser mais evoluído que eles, chamado de “Chohan”. Todas as inteligências do Cosmos obedecem humildemente à Lei. (CCA)
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Sobre a missão de Helena Blavatsky, que envolve o despertar da humanidade para a lei da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
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A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de 2013 por “The Aquarian Theosophist”.
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Para ter acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
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A reprodução de A Aura e o Magnetismo do Ser Humano  é livre, uma vez que seja feita na íntegra - incluindo o nome de autor - e que seja citado o website de onde for retirado.
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Publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com ,
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http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=129#.UsYAEfRDte_
 
 

O Mistério de Alessandro Cagliostro

www.FilosofiaEsoterica.com


Místico do Século Dezoito
Antecipou Missão de Helena Blavatsky

Carlos Cardoso Aveline


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O texto a seguir foi publicado
inicialmente no boletim eletrônico
“O Teosofista”, edição de abril de 2011.


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Conde Alessandro Cagliostro (1743?-1795?),
em imagem produzida por Robert Samuel Marcuard,
a partir de um quadro de Francesco Bartolozzi


“Não venho de nenhum lugar, e não
pertenço a tempo algum. Fora do tempo,
meu ser espiritual vive sua existência eterna.”

(Alessandro Cagliostro)


O conde Alessandro Cagliostro foi um dos maiores místicos do século 18. Ele foi também incompreendido e perseguido até a morte -; ou, pelo menos, até o momento em que desapareceu misteriosamente da sua cela, em uma inacessível prisão do Vaticano.

Todo aquele que contraria a ignorância organizada é alvo de ataques. Segundo a lenda dos evangelhos cristãos, Jesus Cristo foi condenado à cruz como castigo por ser um charlatão. Cagliostro ainda hoje é chamado de charlatão, assim como ocorre com Saint-Germain, Helena Blavatsky e outros sábios e filósofos de diferentes épocas.

Apesar das calúnias, o trabalho de Cagliostro na segunda metade dos anos 1700 tem uma relação interna com o impulso que um século depois criaria o movimento teosófico moderno, em 1875.

Famoso por seu dom de curar, Cagliostro trabalhou em níveis superiores de consciência. Seu esforço se somou às ações de outros pensadores do século 18, entre eles os filósofos iluministas de vários países da Europa. Ele ajudou a provocar grandes transformações sociais. Ele também fez uma tentativa de resgatar o movimento maçônico da sua decadência. Cagliostro criou em Lyon, na França, em 1786, uma maçonaria aberta à participação de mulheres e para a qual criou um Rito Egípcio. Mais tarde, Annie Besant e seus seguidores iriam usar o nome “rito egípcio” para fazer um ritual sem valor e sem relação com o rito egípcio autêntico.

H. P. Blavatsky informa que Cagliostro agia inspirado pela filosofia esotérica dos mestres do Oriente. Ele passou algum tempo na Rússia e na Inglaterra. Depois viveu na França. Perseguido, passou seis meses preso na Bastilha antes de ficar comprovada sua inocência no famoso caso do Colar da Rainha. Seu trabalho pela regeneração do ser humano coincide com o mesmo impulso interior humanista que fez surgir a declaração dos direitos do homem e originou as revoluções norte-americana e francesa. Os excessos da revolução francesa, que degenerou em uma espécie de terrorismo de Estado, apenas mostram a necessidade da ação pacífica. O ideal básico da democracia e da liberdade do indivíduo é mais atual do que nunca, no século 21. O lema “Liberdade, Igualdade [de Direitos] e Fraternidade” é hoje a meta da Organização das Nações Unidas e de cada cidadão de boa vontade.

Passo a passo, a civilização se aproxima do momento em que será alcançado o ideal da paz perpétua entre todos os povos, levantado na segunda metade do século 18 por Jean-Jaques Rousseau, por Immanuel Kant, pelo Barão de Holbach e outros humanistas, ao mesmo tempo que o místico Cagliostro e o conde de Saint-Germain também trabalhavam, num plano mais esotérico, pela elevação da alma humana.

Nascido no início da década de 1740, Cagliostro havia trabalhado longamente pelo ideal humanista quando foi preso pela Inquisição do Vaticano na Itália, em dezembro de 1789.

Naquele momento a revolução francesa estava começando. Feito prisioneiro, ele foi levado de uma prisão para outra. Cagliostro foi torturado, longa mas inutilmente, pelos carrascos católicos. O objetivo dos verdugos do Vaticano era forçá-lo a confessar crimes que não havia cometido.

Em 7 de abril de 1791, Cagliostro foi condenado à morte. Seus livros e alguns dos seus objetos maçônicos foram queimados diante de uma multidão, na Piazza della Minerva, em Roma.

H.P. Blavatsky conta que pouco depois aconteceu algo curioso. Um estranho personagem, nunca antes visto no Vaticano, surgiu em Roma e solicitou uma audiência em particular com o Papa. Ao invés de dar seu nome, o desconhecido mandou ao Pontífice, pelo Cardeal Secretário, apenas uma palavra.

A reação do papa foi receber imediatamente o desconhecido. Depois de alguns minutos de audiência privada, o personagem retirou-se. Em seguida, o papa deu ordens para um procedimento que deveria ser feito no mais absoluto segredo. A pena de morte a que Cagliostro havia sido condenado deveria ser comutada para pena de prisão perpétua. O conde de Cagliostro deveria ser encerrado no castelo de San Leo, que ficava no alto de uma rocha, e ao qual só se podia ter acesso por meio de uma cesta elevada e abaixada com uso de roldanas. Era um elevador primitivo. [1]

Foi dali, há mais de 200 anos, que Cagliostro desapareceu em 26 de agosto de 1795.

Segundo a versão oficial, ele morreu. De acordo com outras versões, mencionadas por Helena Blavatsky, ele teria saído vivo daquela cela inacessível graças a algum método especial.

Há de fato um mistério sobre o modo como terminou a vida deste personagem. Segundo W. R. H. Trowbridge [2] , que cita H. P. Blavatsky como fonte, ele parece ter saído da prisão de San Leo por um método do qual seus carcereiros não foram informados. Esta afirmação de HPB está documentada. HPB narra esta possibilidade em seu artigo “Was Cagliostro a Charlatan?”, atualmente publicado em “Collected Writings”, volume XII, p. 88.

Além disso, Trowbridge menciona um relato segundo o qual, alguns anos depois da desaparição de Cagliostro, teria acontecido algo de grande interesse para os teosofistas. Trowbridge cita HPB como fonte da sua afirmativa, mas não diz em que texto ela escreveu ou quando ela disse o que ele narra. Segundo Trowbridge, HPB afirmou que Cagliostro foi visto por várias pessoas na Rússia, depois de sua suposta morte em 1795, e que passou algum tempo na casa do pai de Helena Blavatsky.

A afirmativa de Trowbridge deve ser investigada, porque não está demonstrado que H. P. B. fez tal afirmação.

É certo, porém, que Cagliostro viveu alguns meses na Rússia entre 1779 e 1780. H. P. B. nasceu no império russo poucas décadas depois da morte de Cagliostro. Um estudo comparado entre as personalidades e circunstâncias de vida de ambos mostra grande número de elementos similares. H. P. B. escreveu bastante sobre Cagliostro. Ela também usava a jóia maçônica que pertencera a ele, e que hoje faz parte dos arquivos da Sociedade Teosófica de Adyar, na Índia [3].

Em carta a Alfred Sinnett, Helena Blavatsky conta que um colaborador dela, Darbargiri Nath, visitou durante uma hora a cela de prisão em que esteve Cagliostro. Darbagiri pode ter desenvolvido ali alguma atividade meditativa especial. Na mesma citação, HPB menciona o Sr. Hodgson, um dos que a acusaram de charlatã nos anos 1880:

“Serei eu maior, ou de alguma maneira melhor, do que foram St. Germain, e Cagliostro, Giordano Bruno e Paracelso, e tantos outros mártires cujos nomes aparecem nas Enciclopédias do século 19 com os meritórios títulos de charlatães e impostores? Será carma dos juízes cegos e maldosos - não meu carma. Em Roma, Darbargiri Nath foi à prisão de Cagliostro no forte Sant Angelo, e permaneceu naquele buraco horrível durante mais de uma hora. O que ele fez lá daria ao Sr. Hodgson elementos para outro Informe ‘cientifico’ se ele pudesse investigar o fato.” [4]

É interessante registrar um detalhe numerológico que mostra a relação oculta entre Cagliostro e Helena Blavatsky.

Cagliostro foi condenado à morte dia 7 de abril de 1791. Helena Blavatsky morreu no dia 8 de maio de 1891, exatamente um século, um mês e um dia depois da condenação de Cagliostro.

É consenso em meios esotéricos que no século 18 Cagliostro trabalhou em cooperação com o conde St. Germain. Henry Olcott, co-fundador do movimento teosófico moderno, escreveu algo significativo sobre uma das pessoas mais próximas de HPB, a sua tia Nadya Fadeef.

Referindo-se a St. Germain, Olcott disse:

“Se a Sra. Fadeef - tia de HPB - pudesse ser induzida a traduzir e publicar certos documentos da sua famosa biblioteca, o mundo teria um enfoque mais bem informado do que existe até hoje sobre a missão europeia pré-revolucionária deste Adepto Oriental.” [5]

De fato, HPB termina o artigo intitulado “Count de Saint-Germain”, publicado na sua revista “The Theosophist”, com as seguintes palavras:

“Uma pessoa respeitada, integrante da nossa Sociedade [Teosófica] e residente na Rússia, possui alguns documentos sobre o Conde de Saint-Germain que são altamente importantes para resgatar a memória deste que é um dos maiores personagens da época moderna. Esperamos que os elos perdidos da sua história incompleta possam ser publicados em breve nestas colunas.”

Boris de Zirkoff, editor das obras de HPB, acrescenta que tal teosofista morando na Rússia era certamente Nadya, a tia de HPB, e que os documentos mencionados nunca foram colocados à disposição do público. [6]

Henry Olcott também afirma em suas Memórias que H. P. B. e ele pensaram, em 1878, em fazer com que o movimento teosófico retomasse o trabalho de Cagliostro. [7]

Na primeira metade da sua missão, HPB fez fenômenos psíquicos de certo modo semelhantes aos realizados por Cagliostro.

O estudioso Marc Haven escreveu uma longa e excelente biografia de Cagliostro, “Le Maître Unconnu”. É um dos poucos estudos de grande porte sobre Cagliostro que lhe fazem justiça, e até hoje está publicado apenas em francês. Neste livro vemos o que Cagliostro disse a seus juízes, quando lhe perguntaram quem, afinal, era ele:

“Não venho de nenhum lugar, e não pertenço a tempo algum. Fora do tempo, meu ser espiritual vive sua existência eterna. E se me retiro em minha consciência e retrocedo ao longo do curso das idades, e se levo meu espírito até uma forma de existência que está muito longe da pessoa que vocês vêem diante de si, então me torno um com meu ser espiritual. Enquanto estou conscientemente participando do Ser Absoluto, estou ao mesmo tempo ajustando minha atividade às minhas circunstâncias. Meu nome é o nome da minha função, e eu a escolhi, porque sou livre; meu país é aquele em que eu estiver trabalhando em qualquer momento dado.”

Cagliostro prossegue:

“Não nasci da carne nem da vontade de seres humanos. Nasci do espírito. Meu nome é coisa minha, e é este com o qual escolhi aparecer diante de vocês, este é o nome que quero. O nome da minha juventude (.....), este eu o deixei como uma roupa velha que não tem mais utilidade para mim.”.

E ainda:

“Todos os povos são meus irmãos; todos os países são amados por mim. Estou viajando para que por toda parte o Espírito possa descer e encontrar um lugar entre vocês. Peço aos reis, cujo poder eu respeito, apenas hospitalidade em seus países, e quando a recebo, trabalho para estimular, no que é possível, as boas ações.” [8]

Assim como Helena Blavatsky, Alessandro Cagliostro teve coragem e grandeza diante dos seus perseguidores. Quando o interrogaram sobre suas atividades, ele respondeu:

“Em cada lugar a que vou, largo uma parte de mim mesmo (....) deixando a vocês uma pequena claridade, um pequeno calor, uma pequena força; até que, por fim, eu esteja definitivamente no final da minha carreira, no momento em que a rosa florescer na cruz.” [9]

De fato, H.P. Blavatsky escreveu que Cagliostro foi o último dos verdadeiros rosa-cruzes.[10] As palavras dele no trecho citado acima parecem sugerir duas coisas:

1) Que a missão de Cagliostro incluía várias vidas; e

2) Que sua missão terminaria com a vitória definitiva da sabedoria e da ética universais, na comunidade humana.

(C. C. A.)

NOTAS:

[1] “Was Cagliostro a Charlatan?”, artigo de H. P. B. publicado em “The Collected Writings of H. P. Blavatsky”, TPH, Adyar, India, volume XII, pp. 87-88. O artigo completo vai da p. 78 à p. 88.

[2] “Cagliostro - Maligned Freemason and Rosicrucian”, W. R. H. Trowbridge, Kessinger Publishing Co., Montana, USA, 312 pp., ver pp. 306-307.

[3] Sobre a acidentada trajetória da jóia maçônica de Cagliostro, veja o artigo “The Mysterious Life and Transitions of the Cagliostro Jewel”, de Nell C. Taylor, na revista “Theosophical History”, edição de julho de 1990, Califórnia, EUA, pp. 79 e seguintes. Discípulos avançados têm a possibilidade de reencarnar rapidamente, porque experimentam em vida altos níveis de consciência e não necessitam, para este “descanso na esfera celestial”, de um longo intervalo entre duas vidas. Segundo alguns pesquisadores, como a autora inglesa Jean Overton Fuller, as encarnações de Paracelso, Cagliostro e H. P. B. podem ter sido três vidas em sequência, da mesma alma imortal, cuja meta é ajudar na preparação de um novo ciclo da evolução humana. As semelhanças entre estas três vidas também podem ser resultado de outras causas. Ver comentário sobre “An Unsolved Mystery”, na Nota sobre fontes bibliográficas, mais abaixo.

[4] “The Letters of H. P. Blavatsky to A.P. Sinnett”, transcribed by A.T. Barker, Theosophical University Press, Pasadena, California, USA, 1973, 404 pp., ver Carta XLVI, p. 110. H. P. B. dá o nome de Sant Angelo para a Fortaleza. Cagliostro foi preso inicialmente em Sant Angelo. O Vaticano afirma que ele morreu mais tarde na fortaleza de San Leo (“Collected Writings”, ver volume XII, pp. 86-88.) Há ilustrações sobre San Leo e a cela supostamente ocupada ali por Cagliostro na obra “Cagliostro”, de Roberto Gervaso (ver nota “Outras Fontes Bibliográficas”, a seguir).

[5] “Old Diary Leaves”, Henry Olcott, First Series (volume I), TPH, India, 1974, 490 pp., ver p. 241, nota de pé de página.

[6] “Count de Saint-Germain”, artigo de HPB, em “Collected Writings”, volume III, pp. 125-129, ver p. 129.

[7] “Old Diary Leaves”, Henry Olcott, First Series (volume I), obra citada, pp. 468-469.

[8] “Le Maître Unconnu: Cagliostro” (Etude historique e critique sur la Haute Magie), de Marc Haven, Editions Dervy, Paris, Quatrième Edition, 1995. Ver pp. 241-244.

[9] “Le Maître Unconnu: Cagliostro”, obra citada, ver pp. 242-243.

[10] “The Collected Writings of H. P. Blavatsky”, TPH, Adyar, India, volume I, pp. 103-104, artigo intitulado “A Few Questions to ‘Hiraf’ ”. No mesmo volume, ver também p. 141, texto “The Science of Magic”.

OUTRAS FONTES BIBLIOGRÁFICAS SOBRE CAGLIOSTRO:

Veja, além dos livros e textos citados acima:

* “Rituel de la Maçonnerie Egyptiene”, Édition des Cahiers Astrologiques, Nice, France, Annoté par le Docteur Marc Haven, 1948, 147 pp.

* “Cagliostro et le Rituel de la Maçonnerie Égyptienne”, Robert Amadou, SEPP, Paris, 1996, 117 pp. Ver, às pp. 34-37 deste pequeno livro, uma especulação de Amadou sobre o final dos tempos em torno do ano 2000.

* “L’Esprit Des Choses”, Publication du C. I. R. E. M., (Centre International de Recherches et D’Etudes Martinistes), France; volume 4 (1995) et volume 5 (1996).

* “The Phoenix, an Illustrated Review of Occultism and Philosophy”, Manly P. Hall, second edition, The Philosophical Research Society, 1995, 176 pp. ver capítulo “Cagliostro and the Egyptian Rite of Freemasonry”, pp. 152-159.

* “Compendio de la Vida y Hechos del Conde Calliostro”. A compilação do processo da Inquisição contra Cagliostro, edição fac-similar do livro editado em Sevilla, Espanha, 315 pp.

* Artigo “Who Was Cagliostro?”, Will C. Burger, na revista “The Theosophist”, Adyar, Madras / Chennai, India, March 1962, pp. 384 e seguintes.

* Artigo “The Mystery of Cagliostro’s Mission”, Will C. Burger, em “The Theosophist”, July 1962, Adyar, Madras / Chennai, India, pp. 252 e seguintes.

* Artigo “Blavatsky About Cagliostro”, Will Burger, “The Theosophist”, Outubro de 1964, pp. 8 e seguintes.

* Artigo “Great Theosophists - Cagliostro”, “Theosophy”, Los Angeles, October 1938, pp. 530-536.

* Conto ou relato de H. P. B. intitulado “An Unsolved Mystery”, com comentários do editor Boris de Zirkoff, em “Collected Writings of H. P. Blavatsky”, TPH, volume I, pp. 151-162. O texto, que possui tons fantásticos, conta um suposto episódio de Cagliostro e sua esposa, ambos usando outros nomes, em Paris, em 1861. O conto pode ser um modo de HPB dar pistas falsas sobre “o mistério de Cagliostro”, protegendo o segredo que deve cercar a vida de todo iniciado. Pode ser também verdadeiro no sentido literal, embora não faça sentido que uma pessoa não-avançada no Caminho, como a esposa de Cagliostro, pudesse reencarnar rapidamente. Tampouco é correto pensar que Cagliostro estivesse fazendo exatamente as mesmas coisas um século mais tarde, ou que ele se envolvesse numa situação pessoal tão complicada como a mostrada pela narrativa. Além disso, os fatos relatados teriam que haver aparecido nos jornais, e não há indícios de que isso ocorreu. Porém, a narrativa é admirável e encerra profundas lições.

* Cagliostro é citado várias vezes na primeira parte da narrativa de HPB intitulada “The Silent Brother”, que está incluída em “Collected Writings”, volume II, pp. 366-377. Ver especialmente as duas páginas iniciais.

* “HPB Speaks”, editado por C. Jinarajadasa, TPH, Adyar, India. Obra em dois volumes. Ver especialmente o volume II, pp. 27 a 36.

* “Collected Writings of H.P. Blavatsky”, TPH, India, volume XV (Index), pp. 98-99.

* “Cagliostro”, Roberto Gervaso, Biblioteca Universale Rizzoli, BUR, copyright 1972,1976, 1992, Milano, Itália, 250 pp.

* “Cagliostro”, Philippe Brunet, copyright 1994, Rusconi Libri, Milano, Itália, 380 pp.

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A reprodução de O Mistério de Alessandro Cagliostro é livre, uma vez que seja feita na íntegra - incluindo o nome de autor - e que seja citado o website de onde for retirado.

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Publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com ,
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1159

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