sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Chave da Estabilidade

www.FilosofiaEsoterica.com

O Verdadeiro Discípulo Se Mantém  
Sereno Nas Diferentes Situações da Vida
 
 
John Garrigues
 

 
Em Teosofia, Equilíbrio é Fundamental
 
 
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O texto a seguir foi publicado inicialmente de modo anônimo
pela revista “Theosophy”, de Los Angeles, em sua edição
de Janeiro de 1922, pp. 77-78. Título original: “The Key to
Steadiness”. A tradução ao português apareceu pela primeira
vez no boletim eletrônico “O Teosofista”, do website
www.FilosofiaEsoterica.com, em sua edição de agosto de 2011.
 
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Estabilidade significa um controle do corpo, dos sentidos, da mente e das emoções, devido à visão que se tem de determinada meta. Se a meta não for suficientemente elevada, porém, não pode haver uma verdadeira estabilidade, porque a própria meta não será estável. Assim, o ser que busca irá oscilar com o movimento incerto da própria meta buscada.
 
Ao longo das eras, os instrutores antigos e modernos nos fazem esta advertência: “Mantenha sempre presente em sua mente o seu propósito principal”. O objetivo da nossa aliança não deve ser esquecido nunca.
                                                                  
Qual é esta meta, o principal propósito de todo verdadeiro estudante de teosofia? Trata-se da união com o Eu Superior. Nada menos que isso; uma compreensão cabal da parte divina do nosso ser, e uma unidade consciente com ela.
 
Para muitos, esse parece ser um ideal distante. Sabemos que não estamos prontos. Para a maior parte de nós, já houve, só nesta vida atual, longos anos de educação, de experiência, de mudança de ideias e ideais, e de metas oscilantes. Nós pertencemos à raça humana,e nos movimentamos de acordo com as ideias dela. Estamos mergulhados e presos à sua civilização. O ambiente físico e sutil em que vivemos é um fator muito forte. Em algum momento, em alguma encarnação nós estaremos prontos. É o que pensamos: muitas vidas depois desta existência atual. Mas esta é uma posição pessoal, é claro, e, portanto, uma posição fraca. Nunca poderá haver real estabilidade com base numa visão como esta.
 
Só o eu superior ou alma espiritual é permanente. Só o que é permanente pode ser estável. Nós somos aquele Ser, aquela Divindade, aquele ponto Mais Elevado. O “objetivo principal” é a compreensão desta realidade. 
 
Concentrando-nos na ideia, adotando a posição uma e outra vez, pacientemente, com persistência e sem desanimar, avançaremos para uma meta estável. A estabilidade surge em nós silenciosamente, mas de modo crescente, como qualquer outro conhecimento ou progresso que valha a pena. Sentimos que estamos começando a ter alguma estabilidade, a compreendê-la e a perceber o seu valor. Então podemos passar a examinar, praticar e usar os poderes e instrumentos da nossa consciência. O condutor se senta firmemente em seu lugar, à frente da carruagem; ele usa corretamente as rédeas, aprende a controlar os cavalos e faz com que eles realizem sua tarefa.
 
O discípulo estável se mantém forte, sereno e imperturbado enquanto se movimenta entre seres humanos e acontecimentos de qualquer tipo. Ele é capaz de discernir entre uma coisa e outra, e pode resolver os problemas, porque os vê como eles são. Ele enfrenta eficientemente os desafios da vida à medida que eles surgem, e é capaz de ajudar outras almas que necessitam auxílio e devem ser ajudadas. 
 
O fogo do eu superior arde com força nele: mas ele deve manter-se firme e estável até mesmo em relação à satisfação provocada por este fato, porque é necessário evitar a falsa impressão de que esta força pertence a si, o que o faria cair do Akasha para a luz astral inferior, indo da estável impessoalidade outra vez para a oscilante posição pessoal. Alimentado pelo eu superior, o próprio fogo o sustenta e o alimenta. Devido à sua força, verdadeiros milagres podem ser feitos para beneficiar outros seres. Não é por acaso que um instrutor afirmou a respeito desta força que “ela fortalece e melhora até mesmo as circunstâncias da vida”.
 
Podemos esforçar-nos, pois, para obter estabilidade mantendo sempre em vista o principal objetivo, e adotando uma e outra vez a posição correta; a cada dia e a cada hora, de momento a momento. Não há outro modo de avançar. Deste modo veremos que nada é grande, nada é pequeno, tudo é parte da vida, tudo é interessante e valioso como experiência. A elevação vem com a estabilidade, e também com uma confiança, uma certeza, uma nobreza, uma humildade. A recompensa por esta vitória deve ser imensa e maravilhosa, porque, ao obtê-la, o indivíduo se torna um Mestre da vida.
 
“OM é o arco. O Eu Superior é a flecha. Brahman é o seu alvo. Ele será atingido por um homem que não age impensadamente; e, à medida que a flecha se torna uma com o alvo, o homem se tornará um com Brahman. Deves saber que só ele é o Eu Superior, deixando de lado outras palavras. Ele é a ponte para o Imortal. Medita no Eu como OM.” [1]

 
NOTA:
 
[1] John Garrigueestá citando aqui as primeiras linhas do Mundaka Upanixade, que abrem o artigo “A Flecha no Alvo”, de William Q. Judge. O artigo pode ser encontrado através da Lista de Textos por Ordem Alfabética do website www.FilosofiaEsoterica.com .
 
 
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Artigo publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com 


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Aleijadinho e a Alma Brasileira



Como o Sofrimento Humano
Se Transforma em Sabedoria

Carlos Cardoso Aveline
A igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto

Sob a aparência simples de objetos de arte, as obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738? - 1814), desafiam o tempo como lições de vida e como expressões da sabedoria humana.

É verdade que a maior parte do que se sabe sobre Aleijadinho é lendário. Mas lendas servem para transmitir verdades. O mito em torno dele conta uma história real da brasilidade vista como um processo de alma. A vida de Aleijadinho é também uma aula sobre como transcender o sofrimento inerente à vida. E as obras atribuídas a ele existem de fato, podendo ser vistas por todos em cidades históricas de Minas.

A herança cultural de Antônio Francisco Lisboa é valiosa no século 21 e será valiosa no futuro porque é multidimensional. Seu legado não está apenas nas igrejas e santuários de Minas. Inclui a tradição oral e os documentos históricos da época. Pode ser visto e compreendido de diferentes formas. Ganha novos significados à medida que o tempo passa e uma geração sucede à outra.

Barroco Mineiro Afirmou a Brasilidade

Durante o ciclo do ouro, Minas Gerais tornou-se um foco do sentimento nacional. Várias décadas antes do grito do Ipiranga, a independência do Brasil foi proclamada no plano abstrato dos ideais. Em Ouro Preto veio à luz o sonho ainda hoje incompleto de que o país seja plenamente independente, solidário e próspero.

No século 18 não havia ainda uma clara separação entre arte, indústria e artesanato. O conceito de beleza estava ligado ao que é útil e funcional no cotidiano. Quase todo artista era, ao mesmo tempo, um artesão e um operário. No plano político, é verdade que o barroco europeu foi absolutista. Era uma arte centralizadora, que fortalecia o poder corrupto dos papas e das monarquias e negava a influência do Renascimento. Mas na colônia brasileira a realidade foi diferente: o barroco das Minas Gerais tem um sabor criativo, renovador, inquietante - quase revolucionário por seu compromisso com a terra dos brasileiros.

O Conflito Entre o Sagrado e o Profano

Escultor e arquiteto do século das luzes, Aleijadinho vive o conflito entre o sagrado e o profano. Ele combina esforço e inspiração, talento e tenacidade, imaginação e teimosia - e desse modo consegue ser maior que o sofrimento.

Para os artistas, como para os místicos, o infinito está dentro do que é finito. A missão da arte é revelar a presença do eterno nas coisas passageiras. A sabedoria quer fazer com que o espírito floresça no corpo, e que a luz surja no mundo; e Aleijadinho vive intensamente esse combate. Deste modo ele ajuda a formar a essência do que há de melhor na alma brasileira.[1]

É inegável que os dados da sua vida são imprecisos. Sua biografia está envolta em lendas. Antônio Francisco foi filho natural de Manuel Francisco Lisboa, mestre carpinteiro bem conhecido em Vila Rica do Outro Preto. Há indícios de que ele tenha nascido em 1738, embora seu principal biógrafo indique a data de 1730. [2] Tampouco há um retrato confiável de Aleijadinho. Por sua origem humilde, aquele artista mulato não podia ser membro da elite e não merecia ser retratado. Além disso, sua fisionomia deformada era motivo suficiente para que ele próprio evitasse retratos.

O escritor Rodrigo Bretas, autor da história não comprovada da sua vida, conta que ele aprendeu desenho, arquitetura e escultura nas escolas práticas do seu pai e do desenhista João Gomes Batista.

Com cerca de 40 anos de idade, Antônio teve um filho a quem deu o nome de Manuel Francisco Lisboa, em homenagem a seu pai. Até essa época o artista tinha boa saúde e uma vida cômoda. Gostava de bailes, danças e comida farta. Mas Antônio Francisco vivia uma encruzilhada. Era difícil optar entre a beleza sagrada e a beleza mundana. As ilusões ficam mais fortes quando erguemos o olhar para o mundo divino. O dilema de Antônio, inicialmente agradável, foi descrito no “Romanceiro do Aleijadinho”:

“Ó bela a quem amo:
tens rosto de santa.
Mulheres são anjos?
Ó santa a quem amo:
tens corpo profano.
Mulheres. Não anjos.
Ó corpo que eu amo:
és santo ou profano?
Mulheres não anjos.
Ó peito com que amo:
és sacro e profano.
Mulheres ou anjos?” [3]


Dor Pessoal Ensina Transcendência


Os tempos fáceis terminaram em torno de 1777, uma data numerologicamente forte devido à presença nela de três setes. Foi então que o Carma trouxe as moléstias físicas, símbolo das provações do caminho espiritual. Um dia, Antônio Francisco começou a perder os dedos dos pés. Depois de algum tempo, só podia andar de joelhos. Os dedos das mãos atrofiavam-se e curvavam-se, em alguns casos caíam. Restavam os polegares e os índices. A angústia e o desespero do artista fizeram com que ele próprio cortasse pedaços de suas mãos, usando para isso o formão com que trabalhava.

Há diferentes versões sobre a natureza da sua doença. Seria a zamparina, que causava deformidades e paralisia? Ou era uma doença semelhante ao escorbuto? Seria uma conseqüência de excessos amorosos, como asseguravam alguns?

Com o agravamento da doença, as pálpebras dos olhos inflamaram-se e a parte inferior delas ficou visível. Rodrigo Bretas conta que Aleijadinho perdeu quase todos os dentes. A boca entortou-se do modo como ocorre às vezes com os deficientes mentais. O queixo e o lábio inferiores ficaram caídos. O olhar do artista adquiriu uma expressão de ferocidade, que chegava assustar quem o encarasse subitamente. Essa circunstância, e a boca torta, davam-lhe um aspecto medonho.[4]

A impressão causada por sua fisionomia tornava Antônio Francisco agressivo. Com os sentimentos feridos, ele ficava irritado até quando ouvia elogios. Enxergava ironia oculta nas palavras amáveis de gente desconhecida. Embora fosse alegre e bem-humorado entre os amigos, não tolerava a curiosidade do povo. Para evitar o constrangimento, trabalhava oculto. Mesmo que estivesse entre as quatro paredes de uma igreja, isolava-se do resto do salão por meio de lonas. Conta-se que certa vez um general - provavelmente Luís da Cunha Menezes - decidiu observar de perto enquanto ele trabalhava em pedra. Aleijadinho não pôde afastar diretamente o visitante ilustre, mas fez cair tantas lascas de granito sobre o general que este teve de retirar-se.

Os trabalhos eram feitos em equipe. Aleijadinho possuía um escravo africano chamado Maurício, que operava como entalhador e lhe era profundamente leal. Além dele, dois outros escravos: Agostinho, também entalhador, e Januário, que guiava o burro em que o artista se deslocava pela cidade. Para não ser visto pelas pessoas, Aleijadinho ia de madrugada para o trabalho e dali só saía à noite.

À medida que o sofrimento o forçava a amadurecer, o artista se elevava até uma percepção superior das coisas. Sua vida pessoal era uma crucificação. A ressurreição ocorria no mundo da arte. Sobre seu trabalho em meio à dor, a poeta Stella Leonardos escreveu:

“Lá vai Antônio Francisco
pecador talhando santos.(...)
Lá vai Antônio Francisco
um mal do inferno no corpo.
Lá vai Antônio Francisco
mais horrendo que um demônio.
Lá vai Antônio Francisco
das mãos lutando com anjos.
Lá vai Antônio Francisco
ferindo as mãos, asas de anjo.
Lá vai Antônio Francisco,
entre os anjos e os demônios.
Lá vai Antônio Francisco
mais coragem que um demônio.” [5]

Entre os trabalhos famosos de Aleijadinho estão sua atuação na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Ouro Preto, na igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Sabará, e na Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto.

A capela de São Francisco é considerada a melhor expressão da fase final do barroco mineiro. Nela, Aleijadinho foi também arquiteto e dirigiu a parte principal da obra, entre 1772 e 1779. Depois dessa data, outro mestre notável, Manuel da Costa Ataíde, realizou grande parte das pinturas do interior.


Na imagem que fica acima da porta principal, entre as duas torres da capela, Aleijadinho gravou um alto-relevo que representa São Francisco de Assis, ajoelhado, tendo a visão de Monte Alverne.
O episódio ocorreu em 1224, na Toscana, Itália. Durante uma estadia no eremitério de Monte Alverne, Francisco de Assis vê um anjo de seis asas que paira acima dele pregado numa cruz. Duas asas elevam-se sobre a cabeça do anjo, simbolizando a intenção pura e a ação correta. Duas outras asas servem para voar, e mais duas cobrem seu corpo.

Diante dessa visão, Francisco de Assis é tomado de alegria e tristeza ao mesmo tempo. Ao erguer-se dali, o santo que ama a pobreza sente no corpo pela primeira vez as marcas dos quatro pregos da cruz. São as chagas do Cristo e o anúncio da Paixão de Francisco, que concluiria com sua morte dois anos depois.[6]

A visão de Monte Alverne é uma das obras mais importantes atribuídas a Aleijadinho.
Será possível que o artista, cujo corpo no final da sua participação nessa obra já começava a despedaçar-se, tivesse um sentimento de identidade ou de antecipação em relação aos sofrimentos, e às chagas, de São Francisco? Parece provável.

“Dor”, ou “Dukkha”, é a primeira nobre verdade do budismo. Viver implica sofrimento, e ser maior que a dor exige sabedoria.

Examinando o significado místico do sofrimento pessoal na obra artística de Antônio Francisco Lisboa, Stella Leonardos escreveu no poema “Prece do Aleijadinho”:

“Com dor ou sem dor
ficarei de pé.
Mesmo que os joelhos dobrem,
Mesmo que os pés se ulcerem.
Com dor ou sem dor
usarei as mãos.
Mesmo que as mãos se firam.
Mesmo perdendo os dedos.
Com dor ou sem dor
subirei de joelhos
e mãos postas, meu Deus,
Até meu próprio fim.
Mas dai-me vida
com dor ou sem dor
a fim de que eu termine
minha obra. E ela fique de pé.” [7]


A Verdade Através das Lendas


O conceito de biografia bem documentada é relativamente recente, e não oferece garantias. Ainda hoje as narrativas biográficas de grandes personagens são temas controversos.

A biografia de Aleijadinho, porém, assim como a de São Francisco, é mais do que escassamente documentada. Ela é amplamente lendária, e este não é um fato isolado. As biografias conhecidas de Buddha, Jesus e outros grandes instrutores da humanidade são igualmente lendárias em seus aspectos materiais. Encerram verdades simbólicas.
A sabedoria universal é ensinada por parábolas, como ensina Jesus (Marcos, 4: 1-17) . Isso ocorre, entre outros motivos, porque o ensinamento da sabedoria eterna se dirige ao hemisfério direito do cérebro, sede da intuição espiritual. A percepção do sagrado transcende a expressão verbal comum.

A própria noção de Deus, como entidade monoteísta, é uma construção cultural e uma metáfora, infelizmente levadas para o plano literal. As descrições de Deus monoteísta vem sendo construídas e reconstruídas incessantemente desde a antiguidade, e continuam sendo adaptadas às circunstâncias históricas de curto prazo e aos interesses dos sacerdotes profissionais. O fato de que há inúmeros deuses monoteístas estabelece na prática uma espécie de panteísmo involuntário por parte das numerosas seitas que lutam entre si pelo predomínio político nas grandes religiões monoteístas.

Lendas, parábolas, metáforas e outras imagens simbólicas servem para transmitir lições mais profundas do que as dadas pelos eventos literais da vida, aos quais se apega a mente rotineira e material. Tanto o mito criado em torno do Aleijadinho como a lenda em torno de São Francisco são poderosamente verdadeiros. Ecoam na alma humana, transcendem a visão das aparências, e por isso permanecem vivos ao longo do tempo. [8]

Um aspecto dominante da obra atribuída a Aleijadinho e sua equipe está nas esculturas de doze profetas, construídas em pedra-sabão entre 1800 e 1805 no pátio frontal da Igreja de Bom Jesus de Congonhas do Campo.

São quatro profetas maiores - Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel - e oito profetas menores. Todos eles anunciam a vitória da fraternidade universal proposta pela tradição cristã.

No século 20 o movimento modernista reencontrou as raízes da brasilidade nas cidades históricas de Minas. O poeta Oswald de Andrade escreveu:

“No anfiteatro das montanhas
os profetas de Aleijadinho
monumentalizam a paisagem.
As cúpulas brancas dos Passos
e os cocares revirados das palmeiras
são degraus da arte do meu país
onde ninguém subiu jamais.
Bíblia de pedra-sabão
banhada no ouro das Minas.” [9]

Aleijadinho não fez fortuna. Ele era descuidado na administração do dinheiro e foi roubado várias vezes. Além disso, dividia seus ganhos pela metade com o escravo Maurício e dava esmola aos pobres. No final da vida, libertou seus escravos.

Em 1812 o artista ficou quase totalmente cego e foi viver na casa da sua nora Joana Francisca, que cuidou dele com devoção. O final chegou aos 76 anos de idade, dia 18 de novembro de 1814. [10]

A Força de Aleijadinho no Século 21


O tempo tem mistérios inesgotáveis: séculos depois de sua morte, a presença sutil de Aleijadinho é perceptível em Ouro Preto. As velhas casas, ruas e morros desse município que é patrimônio da humanidade preservam consigo a atmosfera do século 18 e são um poderoso centro de respeito e amor pelas coisas do Brasil.

Em agosto de 2004, estive durante três dias em Ouro Preto. O objetivo era co-dirigir um pequeno seminário sobre a influência da tradição mística na formação histórica e cultural do Brasil. Verifiquei ali mais uma vez que, dentro de certos limites, não é difícil viajar no tempo.

Meditei à maneira dos iogues nas igrejas da antiga capital mineira. Recitei nelas o Gayatri em sânscrito. Com a mente vazia e o coração pleno, caminhando como se vivesse em outra época, investiguei diretamente um dos mitos mais verdadeiros de Minas e do Brasil. Tive a oportunidade de, conforme sugere o poema, -

“Pisar com carinho as ruas
Que o Aleijadinho pisou
E onde serestas flutuam.
Pisar com carinho as ruas
Que o Aleijadinho pisou
Marcando-as com sua força,
à força de frustração.
Como se as ruas não fossem
de pedra, e as pedras não fossem
Pedaços do coração.” [11]

NOTAS:

[1] Veja “Idéias Filosóficas no Barroco Mineiro”, Joel Neves, Ed. Itatiaia, BH, 1986, 195 pp., p. 31.

[2] Sobre indícios a respeito da data de nascimento, ver“O Aleijadinho de Vila Rica”, Waldemar de Almeida Barbosa, Ed. Itatiaia, BH, 1984, 95 pp. em tamanho ofício, pp. 09, 10 e 32.

[3]Romanceiro do Aleijadinho”, Stella Leonardos, Ed. Itatiaia, BH, 1984, 111 pp., ver p. 26.

[4] “O Aleijadinho de Vila Rica”, Waldemar de Almeida Barbosa, obra citada, pp. 32 e 33.

[5] “Romanceiro do Aleijadinho”, Stella Leonardos, obra citada, p. 17.

[6] “São Francisco de Assis, Escritos e Biografias”,Ed. Vozes, RJ, 1991, 1372 pp., ver p. 246. Sobre as asas ligadas à cabeça, ver p. 263.

[7] “Romanceiro do Aleijadinho”, obra citada, ver p. 52.

[8] Sobre o caráter não-histórico da biografia conhecida de Aleijadinho, veja-se algumas páginas verdadeiramente demolidoras na obra “Arte Religiosa”, de Augusto de Lima Jr., Edição do Instituto de História, Letras e Arte, Belo Horizonte, MG, 1966, 170 pp., mais precisamente pp. 161-169.

[9] “O Aleijadinho de Vila Rica”,ob. cit., p. 45.

[10] A vida de Aleijadinho, na versão mais ou menos lendária de Rodrigo José Bretas, inspirou o bom filme “O Aleijadinho, Paixão, Glória e Suplício”, de Geraldo Santos Pereira, disponível em DVD (Paris Filmes). O filme tem 110 minutos de duração.
[11] “Romanceiro do Aleijadinho”, ob. cit., p. 37

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Uma versão inicial do texto acima foi publicada na revista “Planeta”, de São Paulo, em novembro de 2004. A presente versão, revisada, foi entregue para publicação online sete anos depois, em dezembro de 2011.

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Artigo publicado originalmente em www.Filosofiaesoterica.com .

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O SerAtento Como Sala de Aula

www.FilosofiaEsoterica.com

Reflexões Sobre a Aprendizagem de Teosofia
 
 
Arnalene Passos
 



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Fundado em 29 de agosto de 2005, o e-grupo
SerAtento funciona em YahooGrupos. O texto a
seguir é resultado de um diálogo online realizado em agosto
de 2011 entre associados da Loja Unida de Teosofistas, LUT.
 
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Se fôssemos escrever sobre nossa primeira experiência escolar, a criança que chora para não se soltar das mãos dos pais no primeiro dia de aula seria uma cena comum. O mesmo medo se apresenta sempre que estamos frente ao desconhecido.
 
Conduzidos pelas mãos da Grande Lei, chegamos a uma escola para infância espiritual. Aqui  os critérios de seleção são afinidade e não idade; mente aberta e não conhecimento adquirido; humildade diante da grandeza do conhecimento, e outros.  
 
Repetimos então a mesma cena da criança que chora.  Nos agarramos a conceitos e crenças, gastando um tempo precioso, até soltarmos paradigmas que limitam e embaçam nossa visão. Isto não acontece sem dor, e nem todos dão conta de esvaziar a mochila.
 
Diante do mundo de informações que se descortina, sem roteiro curricular, custamos a entender que:
 
* “...Cada estudante deve construir com independência sua própria trajetória para chegar ao conhecimento. ” 
 
* “A busca da verdade deve estruturar-se de dentro para fora na mente e no coração de cada estudante. ”
 
* “A teosofia mostra a falsidade da figura do ‘intermediário’. O impulso em busca do conhecimento filosófico deve ser individual, porque a responsabilidade cármica diante da vida pertence a cada um e não pode ser transferida para alguma organização ou líder.” [1]
 
Com a pedagogia compreendida, começamos a escrever a nossa história de busca pela verdade através dos ensinamentos teosóficos. A fase bem conhecida por todos é a dos porquês. O ritmo depende apenas da  motivação interna  e a visão do dever de cada indivíduo para com sua própria consciência e sua alma imortal.
 
Aqui estamos, aprendizes nesta escola em que o diploma é o discernimento, e a clareza do dever. Aprender e transmitir são simultâneos, e o teste do conhecimento é a vivência em nosso dia-a-dia. 
 
Alguns parágrafos selecionados para reflexão:
 
* O SerAtento surge em 29 de agosto de 2005 como instrumento para realizar um curso online de dois meses sobre a primeira parte do livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline. O nome do grupo é “O Caminho do Guerreiro” e reproduz o título da primeira parte da obra. 
 
* O SerAtento constitui um laboratório de pesquisa teórica e prática  situado no centro de um pequeno sistema dinâmico de produção, publicação e distribuição de textos sobre filosofia esotérica clássica e a arte de viver corretamente. Sua referência central é a vasta obra escrita - e também o exemplo de vida - da pensadora russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). 
 
* A ênfase maior dos estudos e diálogos do SerAtento é dada, pois, ao autoconhecimento, ao estudo filosófico, à auto-responsabilidade e ao esforço por viver com ética. [2]
 
* O e-grupo SerAtento pode ser visto como uma egrégora ou campo energético que rodeia um ideal e um saber filosófico de caráter planetário.  Enxergando o SerAtento como um processo vivo,  é possível investigar em que plano da realidade ele existe, já que sua atividade não ocorre exatamente no plano físico. 
 
O SerAtento não é apenas intelectual. Não é feito só de palavras. Seu processo dinâmico ocorre na luz astral, mas se desdobra em sete níveis de consciência. Ele é como um templo sutil. Ele funciona como uma sala de reuniões teosóficas. Ele é um exercício constante da Prática da Presença Sagrada. O SerAtento é um lugar real, mas não é físico. Ele é mais real, talvez, do que uma sala de quatro paredes feitas de tijolos. O SerAtento é um prédio construído com pensamentos. [3]
 
Pontos de Vista Sobre o SerAtento
 
Nosso esforço em pontuar a vida pelos princípios teosóficos é a força que une e  fortalece o trabalho focado, pioneiro e corajoso que esta recém criada loja luso-brasileira da Loja Unida de Teosofistas, LUT, vem desenvolvendo no campo internacional,  visando renovar o movimento teosófico.
 
Um membro da coordenação do e-grupo escreveu:
 
“O  SerAtento é um processo em que aprendemos uns com os outros e com o ensinamento, fazendo isso na proporção adequada para cada um, conforme o processo natural de cada indivíduo.”
 
Desde Santa Catarina um estudante esclareceu o seguinte:
 
“Mesmo não conseguindo penetrar profundamente nas verdades da Teosofia Autêntica, percebemos a grandeza e a precisão dos ensinamentos ofertados altruisticamente pelos Mestres, por HPB, W. Q. Judge, Crosbie, J. Garrigues, e tantos outros ao longo destes anos, desde 1875. Com um coração de gratidão pela obra, dadas as nossas limitações individuais cármicas, só nos resta divulgar o mais amplamente possível estas verdades, na esperança de que tenham sobre os outros caminhantes, os mesmos efeitos transformadores que tiveram sobre nós.”
 
Recebemos o seguinte testemunho desde o estado do Espírito Santo:  
 
“Eu vejo um doar diário aqui no Atento... de diversas maneiras e isso é tão belo, mostra nossa diversidade na unidade! Nem sei dizer do tanto que já aprendi com vocês,  meus Companheiros de Caminhada! E divulgar os Ensinamentos, repassar TEOSOFIA,  é nossa forma de retribuição ! Nossa pequena grande forma de retribuir.”
 
E uma estudante escreveu de Goiânia:
 
“O SerAtento é uma verdadeira  escola de Teosofia, sem dúvida, creio que todos nos sentimos aqui numa sala de aula. E muito, muito mesmo, essa escola tem contribuído com as boas mudanças em minha vida. Hoje meu pensamento não está no aqui, no agora; está mais além, no longo prazo. E a Teosofia e o SerAtento têm uma participação real nisso.”
 
O seguinte testemunho veio do interior de Minas Gerais:
 
“Os estudos e diálogos promovidos pelo Ser Atento, o autoconhecimento e a auto-responsabilidade nos permite caminhar em solo firme, fortalece o nosso interesse pela Teosofia, sua compreensão e sua prática. Muitos desdobramentos, dimensões, vastidões surgem a partir de nossa existência, das nossas reflexões. A mente vai despertando e o campo das possibilidades avança como um impulso determinador de futuras vivências e realidades. Assim vamos enfrentando nossa existência e aos poucos descobrindo o seu sentido e a sua grandeza.”
 
E da região Centro-Oeste:
 
“Penso que a força real do Atento é a força da veracidade que há em nosso trabalho e em nossas vidas. Qual é a relação entre o que pensamos e o que dizemos? Qual a relação entre o que pensamos, sentimos, dizemos e fazemos? Qual é nosso compromisso  com nossas próprias (boas) intenções? Somos realistas em nossas metas? Estes pontos são fundamentais para que possamos calcular de fato e conhecer a força real do SerAtento - e do nosso trabalho como um todo.”
 
Finalizo com palavras de um teosofista que vive no sul do país. Ele escreveu: 
 
“Atentos no dia-a-dia, poderemos olhar para trás e verificar o quanto este processo foi verdadeiramente alquímico na nossa vida, e veremos com clareza as mudanças, e principalmente o quanto ainda precisamos caminhar. Só com o apoio solidário e cooperativo dos corações e mentes de todos os atentos, poderemos nos tornar mais úteis a todos os seres.”
 
 
NOTAS:
 
[1] Fragmentos de “A Arte de Estudar Teosofia”, de Carlos Cardoso Aveline.
 
[2] Veja “O SerAtento Como Comunicação Social”, texto assinado por Carlos Cardoso Aveline.  
 
[3] “A Egrégora do E-grupo SerAtento”, texto assinado por O Teosofista.
 
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Artigo publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com .


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A Lei da Perseverança

www.FilosofiaEsoterica.com

Um Fragmento do Livro
Tchung-Young, da China Antiga
 
 
Confúcio
  
 
 
 
Uma imagem de Confúcio
 
 
 
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Traduzimos a seguir os parágrafos finais do capítulo 20
de “Tchoung-Young”, no volume “Doctrine de Confucius
Ou Les Quatre Livres de Philosophie Morale et Politique de
la Chine”, traduzido do chinês por G. Pauthier, Librairie
Garnier Frères, Paris, 1922, 485 pp., ver páginas 54-55. [1]
 
A filosofia chinesa não trabalha com o conceito de um
“Deus”, no singular. No texto a seguir, o termo “céu” se
refere à natureza divina e imortal, presente tanto no
universo como na alma de cada indivíduo. A presente
tradução foi publicada pela primeira vez no boletim
eletrônico “O Teosofista”, edição de Outubro de 2011.
 
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O que é perfeito, verdadeiro e livre de toda impureza, é a lei do céu. O aperfeiçoamento é a lei do homem. Consiste em empregar todos os esforços para descobrir a lei celeste, o verdadeiro princípio do mandato do céu. 
 
O homem perfeito [ching-tche] segue esta lei sem qualquer ajuda externa. Ele não necessita meditar nem refletir longamente para compreendê-la, mas chega a ela com calma e tranquilidade. Este é ohomem santo [ching-jin].
 
Aquele que tende constantemente ao seu aperfeiçoamento é o sábio que sabe distinguir o bem do mal. Ele escolhe o bem e a ele se apega fortemente para não perdê-lo jamais.
 
É necessário estudar muito para aprender tudo o que é bom. É necessário fazer as perguntas certas para buscar o esclarecimento de tudo aquilo que é bom. 
 
É preciso permanecer sempre atento em relação a tudo o que é bom, para não perdê-lo. E também é necessário meditar na própria alma sobre o que é bom. O estudante deve se esforçar sempre para conhecer tudo o que é correto, e fazer todo empenho para distingui-lo de tudo o que é errado. Em seguida, deve praticar firme e constantemente aquilo que é correto. 
 
Aqueles que não estudam, ou que, ao estudar, não tiram proveito visível, não devem desanimar.  Aqueles que não perguntam aos mais instruídos sobre aquilo de que têm dúvidas ou não entendem, ou que, ao perguntarem, não conseguem avançar na compreensão, não devem desanimar.
 
Aqueles que não meditam, ou que, se meditam, não chegam a alcançar um conhecimento claro do princípio do bem, não devem desanimar. Aqueles que não distinguem o bem do mal, ou que, se os distinguem, não conseguem uma percepção clara e nítida, não devem desanimar.
 
Aqueles que não praticam o bem, ou que, se o praticam, não conseguem empregar nele todas as suas forças, não devem desanimar. O que os outros fazem na primeira tentativa, eles conseguirão depois de dez tentativas. O que os outros conseguem em dez etapas, eles fazem em cem. O que os outros fazem em cem etapas, eles fazem em mil.
 
Aquele que seguir de fato esta regra de perseverança, por mais ignorante que seja, alcançará necessariamente o esclarecimento. Por mais fraco que seja, se tornará inevitavelmente forte.
 
NOTA:
 
[1] A versão de G. Pauthier preserva expressões simbólicas do chinês que são mais próximas da terminologia teosófica. Levamos em conta, ao traduzir, a versão da obra em espanhol: “Los Cuatro Libros Clásicos”, Confucio, Editorial Bruguera, Barcelona, 1978, 437 pp., ver pp. 92-93.
 
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Artigo originalmente publicado em www.FilosofiaEsoterica.com .