A
Dimensão Universal da Tradição Judaica
Carlos
Cardoso Aveline
A
sabedoria da tradição judaica é tão rica em ensinamentos profundos que, ao
fazer uma comparação, o estudante poderá perceber o cristianismo como “uma
religião demasiado jovem”.
Seria exagero pensar que o
cristianismo é apenas uma cópia mal feita do judaísmo. A tradição cristã tem
seus pontos altos. Entre eles estão os ensinamentos do Novo Testamento, de São
Francisco de Assis, de São João da Cruz, de Teillard de Chardin e outros. Porém
o judaísmo, muito mais antigo que o cristianismo, tem uma profundidade
filosófica e mística sem par nas religiões ocidentais.
A religião hebraica possui a
vantagem cármica de ter sido sempre perseguida e não haver caído na lógica do
poder centralizado, na lógica do aparelho de Estado, do Império e da burocracia
ritualizada. Por isso a filosofia esotérica tem mais pontos em comum com
o judaísmo do que com o cristianismo
institucionalizado. Os 16 séculos de influência dogmatizante e autoritária do
Vaticano não passaram em vão.
No entanto, mesmo ao abordar uma
cultura purificada pelo sofrimento, como o judaísmo, deve-se tomar cuidado com
as personificações do mundo divino.
A mística judaica (assim como
fez depois a cristã, ao imitá-la) personifica a figura de um “Senhor”.
Para evitar a ilusão antropomórfica, que leva ao dogmatismo, o estudante de filosofia esotérica deve perceber
que esta ideia é apenas um símbolo. Não
há um “Senhor” governando o cosmo. Existe a Lei Universal, impessoal e eterna,
a Lei da Justiça e da harmonização constante, a lei do Carma. A
ideia de “Senhor” também simboliza o eu superior de cada ser humano, a fonte
interna de paz.
Traduzo a seguir duas orações
presentes em um velho livro de orações judaico, publicado nos Estados
Unidos em 1953 pela Conferência de Rabinos Norte-Americanos.
Para evitar a falsa noção de que só
um povo é “o escolhido” pela lei universal, coloco na primeira oração as
palavras “ou o país em que vivo”, entre colchetes, na altura em que o texto
fala de Israel. A oração vale para qualquer povo e qualquer país. Seria
desejável que os palestinos também rezassem assim, colocando apenas “Palestina”
como o país de que trata a evocação.
ORAÇÃO PELA PAZ
Dá-nos
paz - o Teu mais precioso presente - ó Tu, eterna fonte
de paz; e permite que Israel [ou o país em que vivo] seja o teu
mensageiro junto aos povos da terra.
Abençoa
o nosso país para que ele possa ser um bastião da paz, e o seu defensor no
conselho das nações.
Que
o contentamento reine dentro de suas fronteiras, e saúde e felicidade
dentro das suas casas.
Fortalece
os laços de amizade e cooperação entre os habitantes de todas as terras.
Planta
virtude em cada alma; e que o amor ao Teu nome santifique cada casa e
cada coração.
Que
sejas homenageado, ó Senhor, fonte de paz.
A tradição hebraica gira em torno
da ética aplicada, e não apenas em torno da crença em algum salvador externo.
A lei do carma - que recomenda
plantar corretamente o bem para ter uma boa colheita - é parte central do
judaísmo.
Fica claro, para os judeus atentos,
que a ética é a grande fonte central de paz.
No mesmo livro de orações, podemos encontrar a oração a seguir, em que o
estudante evoca a Ética e aspira a agir corretamente, para obter a paz
interior:
ORAÇÃO PELA ÉTICA
Faze,
ó Senhor Nosso Deus, com que nos deitemos cada noite em paz, e despertemos a
cada manhã com vida e forças renovadas.
Espalha
sobre nós o tabernáculo da Tua paz.
Ajuda-nos
a organizar nossas vidas de acordo com o Teu conselho, e leva-nos pelos
caminhos da retidão.
Que
Tu sejas um escudo ao nosso redor, protegendo-nos do ódio e da guerra, da
pestilência e do sofrimento.
Que
Tu refreies também dentro de nós a inclinação a fazer o mal; e protege-nos, colocando-nos sob a sombra das Tuas asas.
Protege
as nossas idas e vindas, para que fiquemos com vida e em paz, no tempo presente
e em todos os tempos.
Os cidadãos de
todas as religiões e filosofias têm a ganhar se meditarem calmamente e com
alguma regularidade sobre estas duas orações. [1]
NOTA:
[1] As orações foram traduzidas do
volume “Union Prayer Book for Jewish Worship”, Part I, Newly Revised Edition,
The Central Conference of American Rabbis, Cincinnati, USA, 1953, 396 pp. A primeira oração, que aqui chamamos
de “Oração Pela Paz”, está na página 22. A segunda oração, que aqui chamamos de
“Oração Pela Ética”, está à p. 56.
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Artigo publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com .