quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Os Quatro Tipos de Vibração


É Possível Usar com Eficiência a Força
Das Marés que Movem a Geografia da Alma
 
 
Carlos Cardoso Aveline

 
 
 
A Roda da Vida simboliza a Lei, o Céu e o
Tempo Cíclico. Nela, os eixos vertical e horizontal 
formam uma Cruz que divide o ciclo em quatro etapas. 
 
 
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Uma versão inicial do texto a seguir foi
publicada, sem indicação de nome de autor, na
edição de julho de 2010 do boletim “O Teosofista”.
 
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A marca da natureza é a diversidade na unidade. É o contraste com diálogo. A vida é uma combinação de numerosas vibrações diferentes, cada uma com sua frequência própria e outras características peculiares. Os tipos de vibração da consciência humana são provavelmente infinitos. Em filosofia esotérica, eles são quase sempre classificados de modo setenário. [1] Mas também podem ser divididos e classificados de outras maneiras.
 
O estado de espírito de um ser humano é, pois, um conglomerado complexo de consciências diferentes. Em qualquer momento ou situação, há várias modalidades de consciência ocorrendo ao mesmo tempo no Espaço sutil da alma. Cada indivíduo atua sob a influência de fatores incontáveis, presentes nos planos físico, emocional, mental e espiritual. Nem todos os fatores, porém, têm o mesmo peso, e avaliá-los requer atenção.
 
A geografia da alma é uma ciência sagrada. A paisagem ou topografia da consciência humana se organiza e se distribui de acordo com o carma acumulado, e  isso ocorre a partir dos fatores dominantes da consciência. Entre eles se destacam a Intenção, ou a “direção escolhida”, e a Vontade, que é a “força motora da alma”.
 
Os fatores dominantes da alma estabelecem o foco central das ações e percepções do indivíduo. Eles definem as características centrais do modo como se organiza a consciência, no amplo espaço sutil do espírito humano.
 
Levando em conta apenas a qualidade da vida, é possível dividir as faixas e modalidades de vibração da consciência humana em quatro grandes grupos de percepções, dentro do chamado estado de vigília. Eles se referem ao Foco da consciência, e não excluem de modo algum a sempre abrangente Totalidade Complexa do ser.
 
Eles são:
 
1)  A Faixa da Contemplação
O grupo mais elevado de vibrações é naturalmente o espiritual. Aqui estão a sensação de bem-aventurança e a vivência da bênção incondicional. Encontramos nesta dimensão de espaço a percepção da unidade de tudo o que há, e a compreensão imediata da eternidade da vida. A consciência da contemplação está presente na alma durante as 24 horas do dia. A elevação do foco da consciência até esta consciência é algo que pode ocorrer a qualquer momento. Se não há uma obstrução séria da ponte com a alma imortal [2] - o foco da percepção tende a se elevar sempre que ocorre uma renúncia ou perda do apego cego às rotinas da vida externa. A ação correta leva ao desapego, e o desapego torna a alma leve.
 
2) A Faixa da Harmonia Elevada
 
O segundo grupo de estados de consciência que temos em estado de vigília reúne os tipos de ideias e emoções que possuem dinamismo e atividade mas, ainda assim, são compatíveis com o primeiro grupo. Há integração, harmonia e coerência, mesmo em meio ao esforço e ao contraste da vida externa. A presença da alma é perceptível. Esta parte da consciência está iluminada pela experiência suprema da consciência imortal.
 
3) A Faixa da Oscilação e do Contraste
 
O terceiro aglomerado de possibilidades da consciência é intermitente e intermediário. Não há aqui uma contradição consistente em relação à essência da alma e ao bem-estar interior. Tampouco existe uma percepção estável do mundo sagrado, ou um esforço definido em função do ideal de auto-aperfeiçoamento. Nesta faixa ocorrem as oscilações, as dúvidas, as provações não resolvidas,  a luta interna da alma, e também - por outro lado - o estado de não-despertar, a situação intermediária, pacata, média, “neutra”, morna. O medo, a cobiça e o apego, assim como os hábitos que sustentam a ignorância espiritual, lutam intensamente pela sua própria preservação. Eles se sentem ameaçados pela presença potencial da sabedoria.
 
4) A Faixa da Negação do Superior
 
O quarto aglomerado reúne as situações que negam e contradizem mais fortemente o bem-estar da alma imortal e a coerência da alma mortal ou eu inferior, criando um carma que irá tornar difícil a fixação e estabilização do foco da consciência nos grupos 1 e 2.
 
O caminho espiritual não consiste apenas em expandir os grupos 1 e 2 de estados de consciência. É necessário também melhorar o tenso equilíbrio do grupo 3, tornando-o mais favorável aos grupos 1 e 2, e reduzir a base densa de resistência à sabedoria, presente no grupo 4.
 
O progresso no caminho teosófico é obtido através da autodisciplina, da  renúncia e da simplicidade. Não basta a idealização otimista pela qual se busca alcançar a faixa da contemplação. As agradáveis homenagens ao mundo espiritual, se não estão acompanhadas pela dura renúncia feita voluntariamente, ficam sem alicerce e produzem um mecanismo de auto-ilusão “espiritual” que nega o verdadeiro caminho. O erro então imita a sabedoria e se reveste de uma falsa aparência, como na imagem dos sepulcros caiados, usada por Jesus no Novo Testamento.
 
O aprendiz precisa revisar regularmente seus hábitos diários, identificando quais deles sustentam a faixa 4, quais impedem o progresso na faixa 3 - e renunciando efetivamente a eles. Ele deve também identificar os novos hábitos que irão promover uma transmutação para melhor em cada uma das quatro faixas, e adotá-los com força, moderação e perseverança, levando em conta que o tempo é cíclico.
 
As Quatro Etapas de Cada Ciclo

A arte de viver ensina que não basta compreender os quatro grandes aspectos do espaço sutil da consciência. É preciso examinar os quatro aspectos do tempo.

Em cada ciclo da vida, estamos sujeitos à alternância de dois pares de etapas. Mesmo num único dia podemos enxergar as quatro instâncias, assim como em uma vida inteira. Toda atividade tem os seguintes momentos:
1) Um início, que, ocultamente, configura na verdade um re-início;
 
2) Uma segunda etapa de crescimento e desenvolvimento acentuado;
 
3) Um período de auge;
 
4) Uma diminuição gradual de energias - e a síntese final e conclusão do ciclo.

A filosofia esotérica ensina a atravessar de modo consciente e criativo estas etapas, nos ciclos grandes e pequenos de uma vida humana, e também ao longo da caminhada espiritual do eu superior, que envolve várias encarnações.  
 
O aprendiz passa gradualmente a usar com sabedoria a força das marés do carma, e percebe melhor quando deve inovar; quando acentuar e expandir o que é novo; quando preservar o que está estabelecido; e quando abrir mão dos velhos processos da vida, para que seja preparada uma outra inovação, e um novo início.

Este aspecto da arte de viver se relaciona ao mesmo tempo com as quatro estações do ano; com as quatro etapas de uma vida humana; com as quatro fases da lua; e as quatro etapas astrológicas do ciclo de Saturno. O planeta dos anéis regula um dos ciclos iniciáticos da evolução da alma.
 
As Quatro Estações
 
A primavera é o início da vida. O verão - o auge do ciclo - expande e consolida o que foi plantado na infância. No outono, aprende-se a buscar o essencial e a optar pela conservação da energia. No inverno, a conservação da energia é aprimorada e a renúncia se transforma numa forma prioritária de sabedoria: a alma evita toda dispersão e concentra o seu talento naquilo que foi escolhido como prioridade central. No final do  inverno, surge o momento de romper a rotina, abrindo espaço para uma nova primavera, e para um reinício melhorado do ciclo vital. [3]   

Em cada estação, em qualquer fase da complexa maré cármica e nas quatro fases da lua, algo deve ser plantado, nos diferentes níveis de consciência: inclusive paz-ciência e capacidade de esperar.
 
Não é pretendendo colher com avidez que se garante uma boa colheita. Depois de plantar, deve-se permitir que a germinação e o crescimento da vida ocorram de acordo com o seu próprio ritmo e segundo as leis da natureza. Quando há maturidade do espírito, o plantio é feito no plano da alma, e tem como meta expressar o potencial sagrado não só de si mesmo, mas de todos os seres. Muito antes de pensar na colheita, é preciso observar e vigiar o que estamos plantando a cada instante.
 
NOTAS:
 
[1] Veja, a propósito, os artigos “Os Sete Princípios da Consciência” e “Os Sete Princípios do Movimento”, que podem ser encontrados através da Lista de Textos por Ordem Alfabética, emwww.FilosofiaEsoterica.com .
 
[2] Leia o texto “A Ponte Entre Céu e Terra”, que está disponível em www.FilosofiaEsoterica.com e seus websites associados.  
 
[3] A respeito das quatro estações, cujo ciclo se relaciona com as quatro grandes iniciações, veja o artigo “A Magia do Final de Ano”, que está na  Lista de Textos por Ordem Alfabética de  www.FilosofiaEsoterica.com .
 
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Sobre os ciclos do tempo na Arte de Viver, veja também o texto “Uma Batalha Diária”, que está disponível em nossos websites associados.
 
Para ter acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br  e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
 
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Texto publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com

terça-feira, 27 de novembro de 2012

CONFIANÇA NOS MESTRES


Um Fator Decisivo na Caminhada Teosófica

John Garrigues  


J. Garrigues (1868 - 1944)




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Nota Editorial de 2012:

O artigo a seguir foi publicado pela primeira
vez na revista “Theosophy”, de Los Angeles,
em janeiro de 1925, pp. 102-106.  Mais tarde foi
publicado pela mesma revista em Outubro de 1949,
e pela revista eletrônica “The Aquarian Theosophist
em sua edição especial de fevereiro de 2006, pp. 13-16.
Esta é a primeira vez que o nome do autor é revelado.
A análise do conteúdo e do estilo, e a data da sua primeira
publicação, indicam que o texto foi escrito por Garrigues.

(C. C. A.)

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“Como são poucos, entre os muitos
peregrinos que têm de começar viagem
sem mapa nem bússola pelo Oceano
sem praias do Ocultismo, aqueles que
alcançam a terra desejada! Acredite-me,
fiel amigo, nada, exceto uma completa
confiança em nós, em nossas boas intenções
se não em nossa sabedoria, em nossa antevisão, se
não onisciência - algo que não é possível encontrar
nesta terra - pode ajudar alguém a avançar desde
a sua terra de sonhos e ficção até a nossa terra da
Verdade, a região da rigorosa realidade e dos fatos.”

[“Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Carta 134, Vol. II, p. 299.]

  

A  confiança é o ponto decisivo nas questões espirituais. A falta de confiança, ao longo do caminho que buscamos trilhar, leva à derrota de todo esforço aparentemente elevado.

Em qualquer lugar e qualquer situação, a confiança é a primeira condição para obter êxito. A confiança na Lei das nossas naturezas imortais, a confiança no fato de que a justiça prevalece, a certeza da nossa capacidade de aprender, de crescer, de realizar o que desejamos, e de encontrar respostas para todos os problemas, são as qualidades por cuja ausência os estudantes sofrem e desistem, somando-se ao grupo cada vez maior dos “desiludidos”, e chegando a uma morte espiritual que é mais amarga, e mais verdadeiramente sem vida do que a morte apenas física jamais foi, ou poderia ser algum dia.

A maldição dos tempos atuais é a suspeita. Aqueles que não confiam em si mesmos não conseguem confiar em ninguém. Como a característica desta época é a discórdia típica do materialismo, a visão comum de uma vida superior é a posse de grandes quantidades de riqueza material. Considera-se que ter “muito dinheiro” é a mesma coisa que ter êxito na vida. Alguns teosofistas pensam da mesma maneira que a maioria em relação a isso, usando como desculpa para aderir às ideias predominantes o argumento de que, se tivessem  muito dinheiro, poderiam ajudar mais a causa teosófica. Mas a prática da natureza humana revela o triste fato de que, quanto mais bens materiais um indivíduo possui, mais preciosos estes se tornam para ele, e menos inclinado ele fica a abrir mão voluntariamente das suas riquezas.

Os seres humanos suspeitam uns dos outros, porque sabem muito bem, em suas próprias consciências, o que fariam com a riqueza  dos seus vizinhos se houvesse uma oportunidade. A situação chegou a um ponto em que basta alguém fazer um trabalho altruísta para que muitos pensem, e com grande convicção, que existe uma intenção egoísta oculta. Se um Cristo caminhar pelas ruas hoje, fazendo milagres e curando doentes, haverá suspeitas de que ele faz isso para obter alguma vantagem pessoal, e alguém dirá que “ele está fazendo propaganda comercial para alguma coisa!” [1]

Para o estudante de Teosofia que quiser ir além do muro da teoria e da incerteza, e libertar-se das trincheiras fixas do conhecimento livresco, não basta permanecer firme contra a forte corrente do materialismo. Ele tem, na realidade, que avançar contra ela. Ele deve fazer mais do que acreditar em Altruísmo; ele deve tornar-se altruísta. Através de um esforço supremo - feito com grande persistência e ao mesmo tempo que o corpo, a mente e mesmo a Alma estão tão desgastados pelo combate desigual que o estudante ficaria contente de morrer no esforço - ele deve avançar constantemente, ainda que o mundo inteiro, e ele próprio, em parte, acreditem que avançar é uma tolice.

A confiança é a qualidade eficaz nestas circunstâncias. Este tipo de confiança não surge como resultado de crença ou de fé cega. Ela emerge de uma fé raciocinada. Surge  de um estudo e de uma compreensão da filosofia, e de uma rígida aplicação de ensinamentos éticos como um modo de vida.

O diletante teosófico nunca terá essa confiança. O estudante que adotou a Teosofia como um meio de obter mais eficiência em suas atividades de professor, de médico, advogado, artista, ou para ser mais eficiente como homem de negócios, mais forte intelectualmente ou mais eficaz em qualquer uma das mil áreas específicas de atuação às quais a mente humana se apega, nunca chegará a ter uma confiança; e muito menos uma segurança consciente. O seu conhecimento ficará no nível da “informação e crença” até o final dos seus dias, sem ir além disso. Quando uma força real for necessária e o jogo de aparências não der mais resultado, a sua confiança em si mesmo falhará.

A convicção da autenticidade das ideias teosóficas básicas é a primeira condição para uma verdadeira autoconfiança. Isso pode ser obtido inicialmente através do estudo intelectual e dos seus frutos, que incluem uma compreensão lógica e raciocinada das explicações e dos conceitos teosóficos. Depois dessa etapa há o processo de testes da base que foi construída através da observação e da experiência. Os assuntos do mundo e dos seus habitantes são como um filme cinematográfico de acontecimentos, pessoas, coisas e métodos que se apresenta para a revisão da mente, dia após dia. São especialmente necessárias uma vigilância e uma análise honestas do processo psicológico do próprio estudante.

Então surge o momento no qual o estudante percebe que já verificou a autenticidade do ensinamento teosófico, até onde ele é capaz de fazer isso, e a confirmou das seguintes maneiras:

(a) Através de uma síntese intelectual e filosófica, tendo como alicerce verdades que são evidentes por si mesmas;

(b) Através da aplicação do ensinamento aos assuntos da vida diária, e, acima de tudo, à sua própria vivência íntima e interior, confirmando a ideia de que a psicologia é uma ciência exata [2] , e de que ela faz parte da teosofia;

(c)  Através da compreensão do fato de que a Verdade sempre explica, e de que, dada a explicação completa sobre algo, nós chegamos à Verdade, que não entra em conflito com qualquer outra Verdade. Este último ponto é uma compreensão, e não uma mera combinação de palavras. A compreensão surge com uma força propulsora que parece ser lançada ou projetada na mente do estudante desde algum ponto externo, embora na realidade ela venha de dentro. Buddhi se expressa como uma convicção.

A percepção intelectual da necessidade da existência dos Mestres cresce simultaneamente no cérebro e no coração do meditador. Se há conhecimento, deve haver Aqueles que Sabem; o conhecimento não existe por si mesmo, mas é resultado da observação e da experiência; e deve haver Seres que fizeram as observações e registraram a experiência. A atividade intelectual pode levar o estudante de teosofia até este ponto, na travessia “desde a sua terra de sonhos e ficção até a nossa terra da Verdade, a região da rigorosa realidade e dos fatos.”  Porque até aqui o esforço de quase todos é na direção de obter conhecimento para si mesmo, por mais que o estudante acredite que sua meta é altruísta.

A mente e o raciocínio estão satisfeitos; foi obtida uma filosofia que realmente explica os seus princípios. Nenhuma outra necessidade é sentida, além da de exercitar-se mentalmente de modo saudável nas claras águas da teosofia, assim como um nadador se exercita saudavelmente em águas claras, no plano físico. Uma qualidade essencial ainda não foi desenvolvida.

Qual é a qualidade básica que leva um ser humano, apesar de si mesmo, a seguir por aquele Caminho ao longo do qual se obtém “completa confiança” nos Mestres? Trata-se de algo tão raro, embora seja mencionado com muita frequência,  que talvez a incredulidade seja a nossa primeira reação, ao vermos a palavra diante de nossos olhos: Gratidão.

Pensemos sobre isso. 

A emoção que às vezes ouvimos ou vemos ser expressada por estudantes de teosofia quando são mencionados os Mestres não é Gratidão. Tampouco se trata de uma emoção inteligente. A mesma sensação inunda as preces coletivas dos cristãos, o evento cristão carismático, a seção espírita, a mobilização patriótica e todo evento em que as pessoas se congregam e se sentem “profundamente emocionadas”. Inúmeras vezes, durante palestras teosóficas, fala-se nos “Mestres” ou nos “Fundadores” com tamanho sentimento que tanto o orador como a audiência são tomados pela emoção -; mas isso não é Gratidão.

A gratidão não é nenhuma das muitas fases da emoção psíquica que são qualificadas através de outros termos. Ela tampouco se mostra em palavras, na maior parte dos casos, nem em expressões de “amor”.

Gratidão é o reconhecimento de que algo foi feito por nós através de um sacrifício e sem motivações pessoais. É um reconhecimento tão forte que já não podemos mais descansar até realizarmos, da nossa parte, um serviço divino que partilha da mesma natureza.

A gratidão é Buddhi em ação; uma qualidade universal, e por isso mesmo espiritual. Ela se expressa através do trabalho altruísta e do esforço para colaborar com os Mestres que são os servidores universais da Natureza. A gratidão transformada em ação eficaz é calma, controlada, silenciosa, e tão poderosa como uma eletricidade cósmica. De fato, ela é Fohat “em uma versão mais terrestre”, em uma versão aplicada ao trabalho que está diante de nós; porque devemos lembrar que Fohat é uma força inteligente, e que as forças não existem por si mesmas.

Assim, aqueles raros estudantes em quem o conhecimento racional da necessidade da existência de Mestres provoca gratidão constituem os trabalhadores ativos da teosofia. Eles  são os colegas que estão engajados em todo o mundo na tarefa de fazer com que a teosofia seja espalhada com mais força. Para o homem ou mulher ocidental dos dias atuais, o processo mental ocorre mais ou menos assim:

“Alguém tinha que fazer com que os escritos autênticos ficassem acessíveis, e mantê-los ao alcance do público. Alguém tinha que preparar as salas de reunião da Loja, divulgar o trabalho, mantê-lo funcionando, fazer os estudos, dar palestras, ajudar -, estando bem ou mal de saúde, e nas quatro estações do ano. Alguém tinha que achar o dinheiro necessário. E é preciso perseverar eternamente nisso, é claro. Graças ao sacrifício feito por outros seres, eu encontrei a filosofia e tenho sido ajudado a compreendê-la. Sinto-me então obrigado a fazer a minha parte, isto é, a fazer tudo o que está ao meu alcance, em qualquer um e em todos os aspectos da atividade da minha Loja. E vou dedicar uma intensa energia a aprender aquilo que ainda não sei fazer.”

Esta atitude, se colocada em prática, mostra gratidão e é gratidão.

Ela também é “devoção”, porque, assim como a verdadeira gratidão, a devoção não é de modo algum um assunto emocional. Este tipo de estudante não busca desenvolver modos especiais de trabalho altruísta que são exclusivamente “seus”, contraindo assim a grave doença da “busca de seguidores”. Ele trabalha aproveitando as oportunidades e as maneiras que estão ao seu alcance, e que ele viu por si mesmo serem corretos e verdadeiros. Ele trabalha junto com os seus colegas; trabalha pelos outros e com os outros.

A confiança em si mesmo surge no estudante que sente este tipo de gratidão e que transforma o sentimento em ação. Surge, então, naturalmente, a confiança nos outros, porque ele se tornou um trabalhador voluntário junto a outros que sentem e trabalham como ele; que são inspirados pelo mesmo sentido de dever intrínseco; que são tão decididos quanto ele, e tão inteligentemente felizes quanto ele é inteligentemente feliz. Os princípios da sua natureza interior o levaram a se engajar nesta luta gloriosa e espontânea, da qual só os guerreiros favorecidos pela boa sorte podem participar. Ele é feliz porque, na luta, ele passa a ter uma existência “natural” no sentido mais profundo e mais elevado da palavra.

À medida que ele avança, a confiança gera mais confiança; tanto em si mesmo como em seus colegas, na humanidade, e em toda a Natureza. Na sua consciência, a existência dos Mestres começa a surgir como um fato e não como mero ideal. Os Mestres estão “no mundo interno”, no início, e depois “no mundo externo”;  mais tarde, sua presença é reconhecida em todos os aspectos da vida e em cada fase da mudança constante dos dias e anos da vida do estudante.

Uma “completa confiança” Neles é uma questão de crescimento. Ela vem com uma compreensão crescente, e é confirmada em cada detalhe através da experiência, graças a processos internos e sutis. Isso ocorre devido a fatos que não iriam constituir prova de modo algum se fossem apresentados a outras pessoas; mas o sentimento inseparável de tais  acontecimentos internos comprova inegavelmente a sua autenticidade para o próprio estudante. É um sentimento claro, imaculado, indescritivelmente convincente.

O estudante está então de fato “avançando” desta terra de sonhos e ficção para a Terra Deles, a Terra da Verdade. Ao mesmo tempo, está ganhando “completa confiança” Neles. Os dois acontecimentos formam uma unidade.  Não estão separados. São aspectos do mesmo e velho desenvolvimento eterno que os escritos antigos mencionam ( e isso também confirma a sua autenticidade).

O processo é descrito nos ensinamentos atuais como “a construção de antahkarana”. Este é o verdadeiro significado da frase segundo a qual o estudante deve “tornar-se o Caminho”.   Porque a realidade é que ele não poderia “avançar” se não houvesse uma “ponte” ou um “Caminho”.  E não poderia construir a ponte, exceto com seus próprios materiais, já que “o Caminho é interno”.  E só pode encontrar e transmutar os materiais para a ponte graças ao fato de que, como um ser humano em evolução, ele está em contato com todos os aspectos da Natureza.

Assim, a compreensão dos ensinamentos científicos da filosofia se une com a Ética e com a Psicologia. A autenticidade do misticismo velado do mundo antigo é comprovada na vida prática do estudante de hoje que sabe observar e respeitar o ensinamento.

Uma “completa confiança” é uma forma de crescimento através do trabalho altruísta, “sem expectativas e livre do processo da esperança”.  A “região da rigorosa realidade e dos fatos” deve ser necessariamente a “terra da Verdade”, porque só o que é verdadeiro é imutável, e só o que é imutável é real.

Alcançar esta “terra”  não é “ir” a algum lugar. Não se trata de uma mudança geográfica. Alcançar esta “terra” não é atrair a atenção dos nossos semelhantes, nem desejar isso.  Certamente não é fazer propaganda de nós próprios, nem direta, nem indiretamente. Trata-se de obter um ponto de vista diferente, e de desenvolver uma ação inteligente a partir dele. A vida de estudante e a vida pessoal não estão separadas.


NOTAS:

[1] A respeito deste tema, veja o texto “Se Cristo Voltar Neste Natal”, que pode ser localizado através da Lista de Textos por Ordem Alfabética em www.FilosofiaEsoterica.com. (C. C. A.)

[2] A Psicologia pode ser vista como uma ciência exata no sentido de que os processos psicológicos operam de acordo com as leis da natureza. A Psicologia trabalha com grande número de equações complexas, e nas quais há importantes incógnitas. Ela é uma ciência exata, isto é, pode trabalhar com precisão, embora sua precisão não seja mecânica.  (C. C. A.)


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Texto publicado originalmente em www.FilosofiaEsoterica.com