Cartas dos Mahatmas Mostram O Que
Ocorre Entre a Morte e o Renascimento
Carlos Cardoso Aveline
Uma imagem dos Himalaias, em quadro de Nicholas
Roerich
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Uma versão inicial do texto
a seguir foi publicada na edição de
abril de 2008 do boletim “O
Teosofista”,
sem indicação do nome do autor.
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“Na natureza nada se cria,
nada se perde, tudo se transforma”
(Lei de Lavoisier)
Introdução
O tema da
reencarnação é relativamente pouco compreendido nos meios esotéricos de Brasil e
Portugal. Vamos descrever em detalhes, no presente texto, o processo prático da
reencarnação. Vamos analisar os vários estados e estágios pelos quais uma
individualidade humana passa desde o final de uma vida física até o começo da
próxima. Iremos investigar o que é que reencarna, e qual é o
intervalo médio de tempo entre duas vidas da mesma alma imortal, segundo a
filosofia esotérica de H. P. Blavatsky.
Cabe, porém examinar uma questão
prévia: qual é a importância prática de compreender a lei da reencarnação?
A
resposta está na expansão de consciência.
Ao estudar o tema, aprendemos a pensar além
da vida atual e passamos a aceitar mais profundamente o fato de que somos
mortais, enquanto eus inferiores e concretos. Isso pode ser inquietante, no
início, porque inconscientemente gostamos de supor que somos eternos.
Depois da inquietação inicial, há por parte
do estudante uma grande expansão do sentimento de confiança na VIDA. O motivo da
nova confiança é a compreensão de que o centro essencial do seu
ser viverá ininterruptamente por dezenas de milênios, até alcançar a
libertação e o nirvana. A compreensão do processo da morte e da reencarnação
elimina a causa do medo diante da vida, ou diante da morte.
A
seguir, em sete itens numerados, um enfoque da reencarnação com base nos
ensinamentos autênticos das “Cartas dos Mahatmas”[1]. As notas vão ao
final de cada item.
NOTA:
[1] “Cartas dos Mahatmas Para A.P.
Sinnett”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, dois volumes.
1. Um Ensinamento Antigo no
Ocidente
O
conceito de reencarnação está presente na cultura ocidental desde o seu berço.
Seiscentos anos antes da era cristã, a metempsicose ou reencarnação era ensinada
por Pitágoras. O Cristianismo dos primeiros tempos conhecia e ensinava a
reencarnação sob o nome de “ressurreição”.
Foi durante o processo de montagem política
do cristianismo como religião imperial e dominante que as passagens sobre
reencarnação foram radicalmente distorcidas ou eliminadas do Novo Testamento.
O
conceito atual e convencional de ressurreição é destituído de sentido e
contraria as leis da natureza. Ele supõe que em algum momento futuro os mortos
sairão fisicamente vivos das suas sepulturas, usando os mesmos corpos que
morreram e apodreceram longo tempo atrás. Além de absurda, tal idéia é de um
evidente mau-gosto. O conceito original de ressurreição, por outro lado,
corresponde à idéia de reencarnação, não entra em choque com as leis da natureza
e faz todo o sentido do ponto de vista da visão evolutiva das coisas. Dele
restam alguns indícios nas escrituras cristãs.
No capítulo 15 da primeira epístola de
Paulo aos Coríntios, Jesus é descrito como o ser que abre espaço para a
ressurreição de todos. Segundo a leitura esotérica dos evangelhos, “Jesus” é na
verdade um símbolo do sexto princípio, Buddhi, a sede da alma espiritual. É,
realmente, através e a partir deste princípio divino na consciência humana que
se dá a reencarnação ou ressurreição. Em 1 Co 15: 44, vemos:
“Semeia-se o corpo natural, ressuscita o
corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo
espiritual.”
A
frase significa que, conforme o corpo natural é semeado, o corpo
espiritual “ressuscita” ou reencarna.
Em 1 Coríntios 15: 36-42, por exemplo,
vemos:
“O que você semeia não readquire vida a não
ser que morra. E o que você semeia não é o corpo da futura planta que deve
nascer, mas um simples grão, de trigo ou de qualquer outra espécie. (...) Há
corpos celestes e há corpos terrestres. São, porém, diferentes o brilho dos
celestes e o brilho dos terrestres. Um é o brilho do sol, outro o brilho da lua,
e outro o brilho das estrelas. E até de estrela para estrela há diferença de
brilho. O mesmo se dá com a ressurreição dos mortos.”
No primeiro livro de Samuel, vemos outra
passagem que, apesar do “pente fino” que eliminou a idéia da reencarnação do
velho testamento, ainda sugere este conceito:
“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz
descer à sepultura e faz subir.”
Também em Eclesiastes, apesar da censura
dos teólogos, a reencarnação permanece implicitamente presente. Ali, no capítulo
um, versículo nove, vemos:
“O que foi é o que há de ser; e o que se
fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do
sol”.
De fato, seria absurdo imaginar que cada
vez que um feto é concebido uma nova alma imortal é “fabricada”, e que esta alma
só terá uma única chance de viver, no máximo cerca de cem anos, e jamais terá a
possibilidade de retomar e prosseguir sua evolução natural em direção à
libertação. As leis da natureza apontam na direção oposta. Como diz a lei de
Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”; e as
almas humanas não são uma exceção à regra.
2. Morte do Corpo é Apenas Uma
Passagem
O estudo da reencarnação, feito do ponto de
vista da teosofia clássica, permite obter uma visão completa e de 360 graus do
processo de vida, morte e renascimento.
Um dos momentos decisivos ocorre com a
passagem definitiva da consciência individual do mundo denso da matéria
para o mundo sutil do astral. Este é o momento da morte física, que, na
verdade, constitui mais um nascimento. A filosofia teosófica ensina que o ser
humano não morre, se pelo verbo “morrer” entendemos uma cessação da vida. Ao
contrário, o ser humano passa por três tipos de nascimento, rompendo três
“placentas” em um ciclo que se renova sempre em espiral, até a sua
auto-libertação final da roda do carma.
Vejamos quais são estes três
nascimentos:
1) Ao romper a placenta que durante alguns
meses lhe permitiu viver dentro do corpo da sua mãe, a alma imortal nasce para a
vida física e adquire um novo corpo. Durante os sete primeiros anos de vida,
aprenderá gradualmente a associar-se ao novo corpo e a dirigi-lo no “novo
mundo”.
2) Setenta, noventa ou cem anos mais tarde,
chega-se ao outro extremo da vida. Ao libertar-se do velho e gasto corpo físico
(agora transformado em uma segunda placenta) a mesma alma humana nasce
para o mundo mais sutil da vida astral.
3) Finalmente, ao romper a sua casca
astral, algum tempo depois da morte física, a alma imortal passa a preparar-se
para nascer no Devachan, o “local dos deuses”. Ali viverá um descanso abençoado
até o momento de preparar-se para um novo nascimento no plano físico. Isso
ocorrerá quando a individualidade “despertar” do Devachan, em média entre mil e
quatro mil anos depois da morte física.
Fica claro, pelo estudo da reencarnação tal
como ensinada pelos mestres dos Himalaias, que existe uma relação direta entre
rumo da vida física e o rumo da vida no pós-morte. E uma das lições práticas
desse estudo é que, já que a vida pós-morte é imensamente mais longa do
que a vida física, vale a pena fazer um esforço concentrado para alcançar a paz
interior e a sabedoria. Assim é estabelecida uma tendência firme na direção
correta, que se desdobrará durante os milhares de anos seguintes. Para estar à
altura deste desafio e desta oportunidade, o aprendiz deve ouvir o seu próprio
coração e agir de acordo com a voz da sua consciência. Mas também é recomendável
estudar e refletir sobre o funcionamento das leis ocultas do universo, inclusive
a lei do carma e da reencarnação. O processo da reencarnação está ligado à lei
mais ampla da manifestação periódica de toda vida. Esta lei se aplica tanto a
seres humanos como a animais, a vegetais, a planetas e ao próprio universo. Sua
abordagem se faz através da chamada Doutrina dos Ciclos.
Talvez o instante mais decisivo de todo o
processo humano seja o minuto final e o ponto culminante da vida física. Veremos
a seguir um trecho de uma carta de um Mahatma que traça uma fotografia do
momento em que a alma termina sua experiência terrestre e faz uma
recapitulação detalhada do que viveu, antes de iniciar o longo e complexo
processo que ocorre entre duas vidas físicas.
O Mestre descreve o encadeamento natural
de causas e efeitos que determinará não só as condições do pós-morte,
mas também as condições, objetivas e subjetivas, do próximo
nascimento.
Pode-se perceber facilmente a força destas
palavras finais do trecho:
“Que falem em sussurros vocês que assistem
a um leito de morte e se encontram na presença solene da Morte. Devem permanecer
quietos especialmente logo após a Morte colocar sua mão fria e úmida sobre o
corpo. Falem em sussurros, digo, para que não perturbem a calma vibração do
pensamento, prejudicando o trabalho ativo do Passado que lança seu reflexo sobre
o Véu do Futuro.”
O trecho reúne duas perguntas e duas
respostas da Carta 93B em “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett” (volume II,
pp. 139-140):
[O Que Acontece no Momento da
Morte]
Pergunta 16:
[Você diz: – “Lembre-se de que nós criamos
nós próprios o nosso Devachan [ .... ] e principalmente durante os últimos dias
e mesmo nos últimos momentos das nossas vidas sensíveis.”]
Resposta 16:
(16) Segundo uma crença amplamente
difundida entre todos os hindus, o futuro estado pré-natal e o nascimento de uma
pessoa são moldados pelo último desejo que ela pode ter no momento da morte. Mas
este último desejo, dizem eles, depende necessariamente da forma que a pessoa
tenha dado a seus desejos, paixões, etc., durante a sua vida passada. É por essa
mesma razão, isto é, para que nosso último desejo não seja desfavorável ao nosso
progresso futuro – que devemos observar nossas ações e controlar nossas paixões
e desejos ao longo de toda nossa trajetória terrena.
Pergunta 17:
[Mas será que os pensamentos em que a mente
pode estar envolvida no último momento dependem necessariamente do caráter
predominante da vida passada? Caso contrário pareceria que o caráter do Devachan
[ ....] da pessoa poderia ser determinado caprichosa e injustamente pelo acaso
que trouxe para uma posição dominante, no final, algum pensamento específico?]
Resposta 17:
(17) Não pode ser de outro modo. A
experiência de homens que estavam morrendo – por afogamento ou outros acidentes
– e são trazidos de volta à vida tem corroborado nossa doutrina em quase todos
os casos. Tais pensamentos são involuntários e não temos mais controle sobre
eles do que teríamos sobre a retina do olho para impedir que ela percebesse
aquela cor que mais a afeta. No último momento, toda a vida é refletida em nossa
memória e emerge em todos os ângulos e detalhes, imagem após imagem, um
acontecimento depois do outro. O cérebro moribundo expele a memória com um forte
impulso supremo, e a memória devolve fielmente cada impressão confiada a ela
durante o período da atividade cerebral. A impressão – e o pensamento – que foi
mais forte naturalmente se torna a mais vívida e sobrevive, digamos, a todo o
resto que agora se desvanece e desaparece para sempre, para reaparecer apenas no
Devachan. Nenhum homem morre insano ou inconsciente – ao contrário do que dizem
alguns fisiólogos. Mesmo um louco, ou alguém que esteja sob um ataque de
delirium tremens terá seu instante de perfeita lucidez no momento da morte,
embora seja incapaz de dizer isso aos presentes. O homem pode frequentemente
parecer morto. No entanto desde a última pulsação, entre a última batida do seu
coração e o momento em que a última fagulha de calor animal deixa o corpo – o
cérebro pensa e o Ego revive de novo naqueles poucos e breves segundos toda a
sua vida. Que falem em sussurros vocês que assistem a um leito de morte e se
encontram na presença solene da Morte. Devem permanecer quietos especialmente
logo após a Morte colocar sua mão fria e úmida sobre o corpo. Falem em
sussurros, digo, para que não perturbem a calma vibração do pensamento,
prejudicando o trabalho ativo do Passado que lança seu reflexo sobre o Véu do
Futuro.
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Estas, acima, são as perguntas e respostas
16 e 17 da Carta 93B, de “Cartas dos Mahatmas”, sobre o momento do abandono
final do corpo físico.
3. A Luta Que Ocorre Após a
Morte
Uma vez completada a morte do instrumento
físico, pode-se dizer que está determinado o rumo de todo o processo até o
próximo nascimento. Mas isso não significa que não deva haver luta entre as
diferentes partes e inclinações do material vivencial que deve ser processado.
Está feito o roteiro; agora, o caminho deve ser percorrido de
fato.
Neste ponto, é necessário explicar algumas
expressões usadas pelo Mahatma ao abordar o tema.
Para a filosofia esotérica, o ser humano
tem sete princípios ou níveis de consciência. O primeiro é o corpo físico,
sthula-sharira. O segundo princípio é a vitalidade, prana. O
terceiro é linga-sharira, formado pelos arquétipos sutis da vitalidade, o
que inclui o patrimônio genético e outros registros cármicos.
O
quarto princípio, Kama, é o das emoções pessoais e sentimentos de ordem
animal (medo, raiva, apego, rejeição, etc.). O quinto princípio, Manas, é
a mente. O sexto, Buddhi, é o princípio da inteligência espiritual, da
compaixão universal e da intuição superior. O sétimo, Atma, é o princípio
supremo, o mais universal, do qual pouco se pode falar com
palavras.
A
“tríade inferior”, de que fala o mestre, corresponde aos princípios um, dois, e
três, que cessam de funcionar no momento da morte: são o físico, o vital, e a
“estrutura sutil da vitalidade”. Sobram então, na etapa inicial do pós-morte,
quatro princípios de consciência, que o mestre chama de “quaternário
sobrevivente”.
Destes quatro princípios, dois ainda são
inferiores (Kama e Manas), e dois são espirituais (Buddhi e Atma). São duas
duplas, portanto, e elas entram em uma “luta mortal” para ver quem predomina.
Quando ocorre a vitória da dupla
espiritual, o que pode demorar desde algumas semanas até vários anos, a parte
mais nobre de Manas, a mente, se associa a Buddhi (sexto princípio) e a Atma
(sétimo princípio). É este material que irá dar lugar, mais adiante, ao
“habitante do Devachan”, isto é, ao eu espiritual que viverá nas esferas
abençoadas de um a quatro milênios do tempo cronológico terrestre, mas sem
que tenha qualquer noção de tempo. O habitante do Devachan é o
verdadeiro eu do indivíduo, e terá esta existência de bem-aventurança
como recompensa cármica pelos aspectos espirituais da sua vida terrestre. Esta
recompensa, na verdade, não é só um prêmio: é também a preparação para um futuro
renascimento completamente renovado.
Separados dos princípios superiores, os
restos inferiores e dejetos da mente se associarão ao quarto princípio
(instintos e sentimentos pessoais), e ficarão algum tempo como uma “Casca”
semi-viva no astral até se decomporem. É esta Casca que pode ser atraída para
sessões mediúnicas e espíritas, e então é confundida com o indivíduo que um dia
viveu. Mas, na verdade, a Alma da pessoa já está em níveis superiores e ali só
há um precário cadáver astral. O Mestre usa ironicamente a expressão “guia
angelical” — porque o espetáculo é lamentável. Revitalizar esta Casca é um
erro grave, e cria problemas muito sérios para a próxima encarnação do eu
superior. Mas isso não é tudo. Os médiuns também ficam gravemente prejudicados e
alterados nos seus princípios sutis. Há uma violência impressionante no fato de
o corpo de alguém ser ocupado pelos princípios inferiores de outro ser.
Especialmente quando estes “princípios inferiores” são apenas pedaços de um
cadáver astral.
Vejamos, então, a segunda metade da
resposta 5, na Carta 68 de “Cartas dos Mahatmas”.
[O Processo do Plano
Astral]
Todos os egos, exceto aquele que,
atraído pelo seu magnetismo grosseiro, cai na corrente que o arrastará para o
“planeta da Morte”, o satélite tanto mental quanto físico da nossa terra – estão
capacitados para passar a uma condição relativamente “espiritual”, de acordo com
a sua condição prévia na vida e seu modo de pensamento. Pelo que sei e recordo,
H.P.B. explicou ao sr. Hume que o sexto princípio humano não poderia existir nem
ter existência consciente no Devachan como algo puramente espiritual, a menos
que assimilasse alguns dos atributos mentais mais abstratos e puros do quinto
princípio ou alma animal, seu manas (mente) e sua memória. Quando o homem morre
os seus segundo e terceiro princípios morrem com ele; a tríade inferior
desaparece, e o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo princípios formam o
quaternário sobrevivente. (...) A partir de então há uma luta “mortal” entre as
dualidades Superior e Inferior. Se vencer a superior, o sexto, tendo atraído
para si a quinta-essência do Bem do quinto – as suas afeições mais nobres, as
suas aspirações puras (embora terrestres), e as porções mais espiritualizadas da
sua mente – segue o seu divino irmão mais velho (o 7º) até o estado de
“gestação”; e o quinto e o quarto permanecem associados como uma casca vazia (a
expressão é perfeitamente correta) que vagueia pela atmosfera terrestre tendo
perdido metade da memória pessoal, e com os instintos mais animais completamente
despertos durante um certo período de tempo – em resumo, um “Elementário”. Este
é o guia angelical do médium comum. Se, por outro lado, for a Dualidade Superior
a derrotada, é o quinto princípio que assimila tudo o que possa restar no sexto
de lembrança pessoal e percepções da sua individualidade pessoal. Mas com todo
este material adicional, ele não permanecerá em Kama-loka – “o mundo do Desejo”
ou a atmosfera da nossa terra. Em muito pouco tempo, como uma palha flutuando
dentro do campo de atração dos vórtices e buracos do Maelstrom [1]
, ele é capturado e arrastado para o grande remoinho dos Egos humanos; enquanto
o sexto e o sétimo – agora são uma MÔNADA individual puramente espiritual – que,
nada tendo restado em si da última personalidade, e não tendo de passar por
nenhum período regular de “gestação” (já que não há um Ego pessoal purificado
para renascer) depois de um período mais ou menos prolongado de Descanso
inconsciente no Espaço ilimitado se verá renascida em outra personalidade (...)
. Quando chega o período da “Consciência Individual Completa” – que precede o
período da Consciência Absoluta no Pari-Nirvana – esta vida pessoal
perdida se torna algo como uma página arrancada no grande Livro das Vidas, sem
que nem mesmo uma palavra desconexa tenha sido deixada para assinalar a sua
ausência. A mônada purificada nem perceberá nem lembrará dela na série de vidas
passadas – o que faria, se tivesse ido para o “Mundo das Formas” (rupa-loka) – e
seu olhar retrospectivo não perceberá nem o mais leve sinal de que ela
aconteceu. A luz de Samma-Sambuddh –
“...aquela luz que brilha além do nosso
campo de visão mortal
A luz de todas as vidas em todos os
mundos” –
não lança raio algum sobre aquela vida
pessoal na série de vidas passadas.
A favor da humanidade, tenho a dizer que
esta total obliteração de uma existência dos registros do Ser Universal não
ocorre com frequência suficiente para somar uma grande porcentagem. Na verdade,
assim como o muito mencionado “deficiente mental congênito”, uma coisa como essa
é um lusus naturae – uma exceção, não uma regra.
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Até aqui, as palavras do Mestre. A esta
explicação, cabe acrescentar:
1) Um “Elementário” é uma casca ou
cadáver astral em que predominam impulsos inferiores, negativos e
nocivos.
2) O Devachan é um descanso
no sentido de "felicidade divina". É um sonho, mas, como sabemos, os sonhos
podem ser mais reais que a vida em vigília. A vida em
vigília, por sua vez, talvez não passe de um sonho. De modo que não se deve
desprezar o Devachan apenas porque ele é qualificado como um estado “subjetivo”
de consciência. Ele é mais intenso (ver a parte 4 desta edição especial) e
talvez mais “verdadeiro” que a
vigília.
NOTA:
[1] Maelstrom – um remoinho famoso,
que ocorre na costa da Noruega.
4. Devachan: um Estado de Pura
Felicidade
Nas duas primeiras perguntas da carta 68,
em “Cartas dos Mestres”, o jornalista e discípulo leigo Alfred Sinnett pergunta
se a consciência individual que “renasce” no Devachan é capaz de lembrar da sua
vida na terra. Ele também quer saber que relação existe entre o “Devachan” ― o
ponto culminante da trajetória entre duas vidas físicas segundo a filosofia
oriental ― e a velha idéia do “paraíso” ou “céu” cristão.
A
resposta é de um dos Mahatmas que inspiram os setores autênticos do movimento
teosófico:
“Certamente, o novo Ego, depois de
renascer, retém durante certo tempo – proporcional à sua vida terrestre, uma
“completa lembrança da sua vida na terra.” (...) Mas ele nunca pode retornar à
terra, do Devachan, e este último tampouco tem – mesmo omitindo todas as “idéias
antropomórficas de Deus” – qualquer semelhança com o paraíso ou céu de qualquer
religião, e foi a imaginação literária de H.P.B. que sugeriu a ela a maravilhosa
comparação.”
Este Ego “nunca pode retornar à Terra”,
conforme afirma o Mestre, porque ele ainda é o “eu espiritual” da vida anterior.
Quem retornará à Terra será apenas a Mônada, ou Atma-Buddhi. Ela emergirá da
etapa final e sem formas do Devachan (“Arupa-Devachan”), para provocar o seu
próprio renascimento, sem recordações, em um novo corpo.
A
seguir, na terceira pergunta da Carta 68, Alfred Sinnett deseja saber “quem vai
para o Céu, ou Devachan”. E Sinnett explica a pergunta: “Esta condição só é
atingida pelos poucos que são muito bons, ou pelos muitos que não são muito
ruins – depois do lapso, no caso destes, de uma incubação ou gestação
inconsciente mais longa?”
No segundo parágrafo da resposta, o mestre
menciona que há um certo “egoísmo” no Devachan. Isso deve ser explicado. O
Devachan é um estado "egoísta" apenas em um sentido técnico da filosofia
budista, já que, nele, o indivíduo não tem um sentimento consciente de
auto-sacrifício por todos os seres. Porém o habitante do Devachan não possui
nada de “egoísmo” no sentido comum do termo, que implica prejudicar alguém. Ele
está em uma esfera autenticamente espiritual e de bem-aventurança. Está unido à
lei universal, e neste sentido é “altruísta”, porque é “puro e
inocente”.
O
mestre responde:
“ ‘Quem vai para o Devachan?’ O Ego
pessoal, é claro, mas beatificado, purificado, sagrado. Cada Ego – a combinação
do sexto e do sétimo princípios – que, depois do período de gestação
inconsciente, renasce no Devachan, é necessariamente tão puro e inocente quanto
um bebê recém-nascido. O mero fato de haver renascido mostra a preponderância do
bem sobre o mal em sua personalidade anterior. E, enquanto o (mau) carma fica de
lado por algum tempo para segui-lo em sua futura encarnação terrestre, ele traz
consigo para este Devachan o carma das suas boas ações, palavras e pensamentos.
“Mau” é um termo relativo para nós – como já lhe foi dito mais de uma vez – e a
Lei de Retribuição é a única lei que nunca falha. Portanto, todos aqueles que
não caíram no lodo do pecado e da bestialidade irrecuperáveis – vão para o
Devachan. Eles terão de pagar por seus pecados, voluntários e involuntários,
mais tarde. Enquanto isso, eles são recompensados; recebem os efeitos das causas
produzidas por eles.”
“Naturalmente se trata de um estado; um
estado, digamos assim, de intenso egoísmo, durante o qual o Ego colhe a
recompensa do seu altruísmo na terra. Ele está completamente envolvido na bênção
de todas as suas afeições, preferências e pensamentos pessoais terrestres, e
colhe o fruto das suas ações meritórias. Nenhuma dor, nenhuma aflição, e nem
mesmo a sombra de uma tristeza surge para escurecer o horizonte iluminado da sua
pura felicidade; porque é um estado de perpétua “Maya”. ... Já que a percepção
consciente da personalidade do indivíduo na terra é apenas um sonho passageiro,
esta percepção também será a de um sonho no Devachan – só que cem vezes mais
intensa. Isso é tão verdade, de fato, que o Ego feliz é incapaz de ver através
do véu as maldades, aflições e angústias a que os que ele amou na terra podem
estar sujeitos. Ele vive naquele doce sonho com os que ama – quer tenham ido
antes ou ainda permaneçam na terra; ele os têm perto de si, tão felizes, tão
abençoados e tão inocentes como o próprio sonhador desencarnado; e no entanto,
exceto raras visões, os habitantes do nosso planeta denso não o sentem. É aí,
durante esta condição de completa Maya que as almas ou Egos astrais dos
sensitivos puros e amorosos, operando sob a mesma ilusão, pensam que suas
pessoas queridas descem até eles na terra, quando são os seus próprios Espíritos
que se elevam até os outros no Devachan. Muitas das comunicações espirituais
subjetivas – a maior parte delas quando os sensitivos têm mente pura – são
reais; mas é extremamente difícil para o médium não-iniciado fixar em sua mente
as imagens verdadeiras e corretas do que ele vê e ouve. Alguns dos fenômenos
chamados de psicografia (embora mais raramente) são também reais. O espírito do
sensitivo fica odilizado, digamos assim, pela aura do Espírito que está no
Devachan, e se transforma durante alguns minutos naquela personalidade
desencarnada, escrevendo com a letra desta última, com sua linguagem e seus
pensamentos, como eles eram durante sua vida. Os dois espíritos ficam misturados
como se fossem um; e a preponderância de um sobre o outro durante tais fenômenos
determina a preponderância da personalidade nas características demonstradas em
tais escritos e nas “falas em transe”. O que você chama de “rapport” é na
verdade uma identidade de vibrações moleculares entre a parte astral do médium
encarnado e a parte astral da personalidade desencarnada. Acabo de ver um artigo
sobre o olfato escrito por um professor inglês (que farei com que seja comentado
no Theosophist e sobre o qual direi algumas palavras) e descobri nele
algo que se aplica ao nosso caso. Assim como, na música, dois sons diferentes
podem formar parte de um acorde e ser distinguíveis separadamente, sendo que
esta harmonia ou dissonância depende das vibrações sincrônicas e períodos
complementares, do mesmo modo há um rapport entre o médium e a “entidade”
quando as suas moléculas astrais se movimentam harmonizadamente. E a questão
sobre se a comunicação refletirá mais a idiossincrasia pessoal de um ou de outro
é determinada pela intensidade relativa dos dois conjuntos de vibrações na onda
composta no Akasha. Quanto menos idênticos os impulsos vibratórios, mais
mediúnica e menos espiritual será a mensagem. Deste modo, então, avalie o
estado moral do seu médium pelo estado moral da Inteligência que supostamente o
controla, e os seus testes de autenticidade não deixarão nada a
desejar.”
5. Quem Tem Direito ao
Devachan?
Na questão número cinco da Carta 68, Alfred
Sinnett pergunta ao Mestre se as pessoas moralmente boas, mas não
espiritualizadas, têm direito e conseguem acesso ao Devachan. Na sua resposta, o
Mestre menciona aquilo que a tradição dos índios tupi-guarani chama de “Terra
Sem Males”, e que constitui um equivalente indígena do Devachan. O Mestre
explica que o Devachan ―
“É uma ‘dimensão espiritual’ apenas em
contraste com nossa própria e grosseira ‘dimensão material’ e, como já foi dito,
são estes graus de espiritualidade que constituem e determinam a grande
‘diversidade’ de condições dentro dos limites do Devachan. Uma mãe de uma tribo
selvagem não é menos feliz que uma mãe de um palácio real, com seu filho perdido
de volta aos braços; e embora como Egos verdadeiros as crianças mortas
prematuramente antes do aperfeiçoamento da sua entidade setenária não encontrem
seu caminho para o Devachan, mesmo assim a fantasia amorosa da mãe encontra a
criança lá, e nenhuma delas deixa de encontrar aquele ou aquela pelo qual seu
coração anseia. Pode-se dizer que é apenas um sonho, mas, afinal, o que é a
própria vida objetiva exceto um espetáculo de vívidas irrealidades? Os prazeres
experimentados por um indígena pele-vermelha em seus ‘felizes campos de caça’
naquela Terra de Sonhos não são menos intensos que o êxtase sentido pelo
connoisseur que passa longas eras enlevado pela delícia de escutar
sinfonias divinas tocadas por coros e orquestras angelicais imaginários. Assim
como não é culpa do pele-vermelha haver nascido como um ‘selvagem’ com instinto
de matar – embora ele tenha causado a morte de muitos animais inocentes – se,
contudo, ele foi um bom pai, um bom filho, marido, por que ele não deveria
desfrutar da sua quota de recompensa? (Ver “Cartas” vol. I, pp. 300-301.)
De 1.000 a 4.000 Anos Antes da Próxima
Encarnação
6.Um Longo Intervalo Entre Duas
Vidas
O
Devachan não é apenas um descanso espiritual merecido. Ele é também
indispensável para que a alma imortal possa voltar renovada, em boas condições,
à intensa luta que é a encarnação física. O bom guerreiro não deve ir
mal-equipado e exausto para uma batalha que será longa e dura: se fizer isso,
poderá perder a batalha em pouco tempo. Por isso o Devachan é indispensável para
a evolução da alma espiritual: ele prepara a individualidade superior para a
próxima “batalha” na Terra.
É
verdade que há exceções. Um discípulo avançado dos Mestres de Sabedoria poderá
“cancelar” seu Devachan, reencarnando em apenas alguns anos ou décadas. Isso,
porém, só é possível porque ele conhece em vida, e experimenta diariamente, em
estado de vigília, algo da substância essencial da consciência que há no
Devachan. Assim, nestes casos pouco frequentes, a situação e a duração do
pós-morte se altera. Os critérios da lei da reencarnação são universais. Eles
não se alteram. Eles pertencem à lei do carma e não estão sujeitos a qualquer
ação casuística ou clientelística em favor ou desfavor deste ou daquele
indivíduo. O indivíduo é que deve alcançar a sabedoria, e viver estados
equivalentes ao Devachan em vida, se quiser encurtar o processo pós-morte para
servir a humanidade.
Os processos cósmicos (densos e sutis) são
definidos por inteligências e hierarquias implícitas, intuitivas e
espontâneas, que expressam de modo prático a pura lei universal e eterna do
equilíbrio. Tais inteligências não necessitam tomar decisões ao estilo do
nosso hemisfério cerebral esquerdo, de modo calculado, dualista e raciocinado.
Tudo flui. Embora os Mestres que ainda retêm corpos físicos cumpram na
hierarquia planetária as funções equivalentes a um “hemisfério cerebral
esquerdo”, eles não trabalham com qualquer tipo de “casuísmo” e usam com grande
rigor e parcimônia a energia dos Nirmanakayas que é colocada à sua disposição.
Eles têm fortes motivos para isso.
Assim, no caso de cada indivíduo, o
intervalo de tempo entre duas vidas dependerá da qualidade e quantidade do
material que deve ser processado, ou re-vivenciado, nas esferas subjetivas do
pós-morte. Seu intervalo de vida subjetiva só poderá mudar na medida em
que tiver sido alterada, antes, a qualidade de vida na encarnação
objetiva anterior.
Vamos agora documentar o intervalo médio
entre duas vidas, segundo a literatura teosófica autêntica. Na pergunta 26 da
Carta 93-B de “Cartas dos Mahatmas”, Alfred Sinnett menciona os casos infelizes
em que o material espiritual do pós-morte não chega a ser suficiente para que a
individualidade “nasça” no Devachan. Sinnett pergunta quando é que, nestes
casos, a mônada (a alma imortal) poderá voltar ao plano físico para uma nova
encarnação. Na resposta, o Mestre afirma: “certamente não antes de mil ou dois
mil anos”. A frase completa diz: “Isso significa que, como a mônada não tem
corpo Cármico para orientar o seu renascimento, cai na não-existência
durante um certo período e depois reencarna ― certamente não antes de mil ou
dois mil anos.” (“Cartas dos Mahatmas”, vol. II, p. 148, pergunta 26, e
resposta única às perguntas 25 e 26).
Em outro texto, falando dos casos normais,
em que há Devachan, o Mestre esclarece: “Sem dúvida, o Ego real é inerente aos
princípios superiores que reencarnam periodicamente a cada mil, dois mil, três
mil ou mais anos.” (“Cartas dos Mahatmas”, volume II, Carta 85B, p. 40). Na
Carta 62, o Mestre explica mais uma vez que “os intervalos entre os
renascimentos são incomensuravelmente grandes” (volume I, página 256). O início
da resposta número nove da Carta 68 deixa, também, muito claro: o intervalo
entre duas vidas é normalmente não só de anos e décadas, mas “séculos e
milênios, frequentemente multiplicados por alguma coisa mais”. E o Mestre
acrescenta: “os prazos de existência encarnada de um homem correspondem a apenas
uma pequena proporção dos seus períodos de existência internatal”. (volume I, p.
305).
H. P. Blavatsky não foi omissa a respeito
do tamanho dos intervalos. No artigo intitulado “Teosofia e Espiritismo”, ela
deixa claro que o período entre duas vidas é de milênios e não de
séculos.[1] Em outro texto, H.P.B. menciona que, salvo exceções, o
intervalo é de “cerca de 3.000 anos, às vezes mais, às vezes menos.” [2]
Fica bem clara, assim, a dimensão do intervalo de tempo entre as encarnações
segundo a teosofia clássica.
Quando a mônada está finalmente pronta para
renascer, ela é tomada por um impulso por aprender mais. No caminho da vida
física, ela se reencontrará com seus antigos skandhas ou registros cármicos, que
aguardavam por ela para guiá-la em um novo ciclo de colheita e
plantio.
NOTAS:
[1] “Theosophy and Spiritism”, em
“The Collected Writings of H.P.Blavatsky”, Theosophical Publishing House, Adyar,
India, volume V, página 45.
[2] “Transmigration of Life Atoms”,
texto publicado em “Theosophical Articles”, H.P. Blavatsky, Theosophy Co., Los
Angeles, 1981, volume II, p. 249. O mesmo texto está no volume V de “Collected
Writings”, TPH.
7.Por Que a Teosofia Se Opõe à
Mediunidade
Diz um Mestre de Sabedoria, em “Cartas dos
Mahatmas”:
“A regra é que uma pessoa que tenha uma
morte natural permaneça “desde algumas horas até uns poucos anos” dentro da
atração da terra, isto é, no Kama-loka. Mas há exceções, no caso dos suicidas e
daqueles que têm uma morte violenta em geral. (...) (...) Felizes, três vezes
felizes, em comparação, são aquelas entidades desencarnadas que dormem seu longo
sono e vivem em sonhos no seio do Espaço! E pobres daqueles cuja Trishna
[1] os atraia para os médiuns, e pobres destes últimos, que os colocam em
tentação (...) Pois ao agarrar-se a eles e satisfazer sua sede de vida, o médium
ajuda a desenvolver neles – é de fato a causa de – um novo conjunto de
Skandhas, um novo corpo, com tendências e paixões muito piores que as do
corpo anterior. (...) Se pelo menos os médiuns e espíritas soubessem, como eu
disse, que cada novo “anjo-guia” a que eles dão as boas-vindas em êxtase é
induzido por eles a um Upadana [2] que produzirá uma série de males
indescritíveis para o novo Ego (...) – eles seriam, talvez, menos liberais na
sua hospitalidade.”
“E agora você pode entender por que nos
opomos com tanta força ao espiritismo e à mediunidade.” ( “Cartas dos
Mahatmas”, Carta 68, Volume I, pp. 312-313)
NOTAS:
[1] Trishna : sede de viver, em
sânscrito.
[2] Upadana: o processo de adquirir
órgãos sensoriais.
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Sobre o mesmo
tema, veja o texto “O Processo Entre Duas Vidas”, também
disponível através da Lista de Textos em Ordem Alfabética em
www.FilosofiaEsoterica.com
.
Para ter
acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a lutbr@terra.com.br e pergunte
como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.
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http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=729#.UF8w0Y1lST9