sábado, 29 de dezembro de 2012

A Arte de Planejar o Futuro


 
O Tempo Constitui Um Recurso Natural Valioso

Carlos Cardoso Aveline
Qualquer momento é adequado para planejar com atenção o uso do tempo. É preciso, no entanto, ter a capacidade interior de observar com calma o ritmo atual das nossas atividades, para então decidir onde e como modificar a rotina e usar da melhor forma possível esse recurso limitado e de enorme  valor.   

“Águas passadas não movem moinho”, afirma o ditado. De fato, o tempo pode ser considerado um recurso natural em grande parte não-renovável. O uso correto do misterioso tempo ― talvez o mais valioso dos recursos naturais ― é um dos grandes desafios do cidadão em todas as épocas.  Vivemos hoje sob a ditadura dos relógios, e a sensação de que o tempo é curto é quase universal nos dias atuais.  Somos interrompidos a todo momento em algumas das nossas atividades.  Por isso nem sempre é fácil viver profundamente ou descobrir que, como almas espirituais, teremos o tempo eterno à nossa disposição, se  usarmos com alguma sabedoria o tempo miúdo de curto prazo.  

Apesar dos obstáculos criados pela nossa própria ignorância, é provavelmente possível para cada um de nós planejar e usar o tempo de modo mais inteligente. 

A solução está em definir um rumo próprio para nossas vidas e em não nos deixar levar para lá e para cá pelas pressões de curto prazo.  Um dos primeiros passos talvez seja descrever por escrito, em um caderno de anotações, as metas dos próximos doze meses, ou da próxima década.  O mero ato de escrever parece dar mais clareza às nossas idéias. Mas é essencial, também, fazer periodicamente uma avaliação dos resultados obtidos, revisando e atualizando as metas a partir dos fatos novos e da experiência adquirida.  Planejamentos eficientes são flexíveis e abertos às possibilidades do futuro, incluindo as agradáveis e as não-agradáveis.  

O tempo é parcialmente renovável, porque é cíclico. Ao longo do seu desdobramento, velhas oportunidades ressurgem renovadas, em determinadas ocasiões.  Mesmo assim, é melhor aproveitar este recurso limitado da melhor maneira possível. Aos poucos, esse esforço nos dará uma visão clara e capaz de identificar e aproveitar as oportunidades ocultas que estão o tempo todo ao nosso redor ; e também reconhecer as grandes oportunidades que só se apresentam em certos momentos especiais.  

Se já sabemos qual é nossa meta central nesta vida, um cálculo realista das forças de que dispomos para alcançá-la mostrará que, na verdade, o uso correto do tempo depende, em grande parte, da nossa auto-estima profunda.

Sem um grau suficiente de auto-confiança e de respeito por nós próprios ― no plano profundo do ser mas também no plano emocional e mental ― somos facilmente arrastados pelos estímulos ou desestímulos externos. 

Tentamos sinceramente viver com sabedoria, mas nos falta a estrutura necessária para manter um curso firme diante das pressões violentas que nos lançam para um lado e outro. Esse problema tem solução: podemos aumentar nossa auto-estima pouco a pouco. A tarefa é essencial, porque “tempo é ritmo”. Se não dermos um ritmo próprio e relativamente constante à nossa vida, a dispersão e a perda de tempo impedirão qualquer progresso real e o tempo passará quase em vão.   

É claro que uma parte importante de nós necessita da aprovação dos outros.  Isto é normal e saudável.  A aprovação da nossa própria consciência, porém, é ainda mais importante. A auto-estima profunda dá segurança emocional, diminui a ansiedade, permite tomar serenamente decisões importantes, e nos torna capazes de emitir e distribuir pensamentos positivos ao nosso redor, estabelecendo laços de apoio mútuo com outras pessoas.  Sentimos tranqüilidade, porque o nosso subconsciente nos diz que nosso tempo e nossa energia vital estão sendo bem empregados.

Mas a presença de uma auto-estima profunda se reflete ainda de outras maneiras. Vejamos algumas delas.  A auto-estima se mostra: 

*  pela capacidade de ficar sozinhos com nós mesmos; 

* pelo prazer de examinar carinhosamente nossa vida, observando nossos erros e decidindo não repeti-los, identificando nossos pontos fortes e decidindo aperfeiçoá-los ainda mais;

* pela tranqüilidade e decisão necessárias para planejar e preparar psicologicamente as nossas atividades futuras.

*  pela capacidade de, conhecendo de fato a si mesmo, esquecer então  a si mesmo e pensar nos outros seres  e na humanidade. 

Se você tem respeito pela vida, vale a pena pensar e decidir qual é a melhor maneira de usar seu tempo. Ninguém pode viver por você: portanto, a decisão sobre como levar adiante sua vida pertence exclusivamente a você, embora você deva levar em conta o bem-estar dos outros. 

Muitas vezes será necessário frustrar as expectativas alheias, ou ser indiferente em relação ao jogo de conveniências externas.  Será necessário até parecer antipático a alguns,  para que você possa manter em funcionamento três funções básicas:

a) ouvir seu coração; 

b) obedecer à voz da sua consciência; 

c) ser coerente consigo próprio.

Para usar bem o tempo, é essencial diminuir os desejos pessoais e fazer com que eles sejam coerentes entre si.  A quantidade excessiva de desejos  freqüentemente contraditórios e anulando-se uns aos outros – é uma doença dos tempos atuais e produz a falsa sensação de que o tempo é curto. Quando queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo, não podemos realizar nada direito.  A multiplicação dos desejos, na verdade, anda junto com a ausência de uma auto-estima profunda. 

Como todo ser humano, cada um de nós tem muitos talentos e possibilidades diversas. Mas o cidadão sensato escolhe os talentos que desenvolverá e dá uma prioridade definida a eles, ao invés de fazer tentativas confusas em todas as direções, com a vaga expectativa de “ver qual dará certo”. 

Aquele que tem metas claras e coragem de planejar sua vida raramente é prisioneiro de dúvidas ou escravo das incertezas. Planejar é um modo de meditar e de visualizar o futuro, criando no plano ideal as realidades que você deseja ver, e colocando em funcionamento as forças mentais e materiais que realizarão o sonho. 
 
Depois de definir suas necessidades básicas e seus desejos mais elevados,  basta trabalhar em função da meta. Ao longo da caminhada, faça simultaneamente três coisas:

1) Visualize o melhor; 

2) Mantenha o pensamento positivo, sem negar os obstáculos; 

3) Evite a dispersão das forças. 

Também é  útil avaliar a possível utilidade das seguintes recomendações:

* Defina metas e ações que sejam não só desafiadoras e estimulantes, mas realistas. Elas devem ser suficientemente difíceis para que você tenha de usar todas as suas forças e todo seu talento. Ao mesmo tempo, devem ser alcançáveis, pelo menos em parte, para que você não caia no desânimo nem desista na metade.
 
* Estabeleça metas flexíveis e abra espaço em seu planejamento para as vitórias parciais. Uma tentativa honesta, intensa, já deve ter o mérito de estabelecer um saldo favorável. Evite qualquer sistema de metas que só tenha duas opções – a vitória total e o fracasso completo. Considere que, do ponto de vista espiritual, a única derrota é não tentar.

* Não queira mudar sua vida em todos os aspectos de um momento para outro. Faça do tempo o seu melhor amigo.  A verdade sempre ganha no final: seja verdadeiro e o tempo trabalhará para você.  Um esforço duradouro e suave pode ser o melhor caminho para a vitória.

*A prática mostra que, a longo prazo, só valem a pena as metas altruístas,  cujos resultados são ao mesmo tempo bons para nós e  bons para os outros. Um objetivo que inclui a derrota de outras pessoas, ou que não é obtido de modo ético e correto, acaba trazendo contra-indicações que, mais adiante, causam arrependimento e um fracasso muito maior do que a aparente vitória inicial.
    
* A astrologia – inclusive a astrologia chinesa – pode revelar aspectos importantes dos padrões vibratórios de diferentes momentos e etapas. Os ciclos e trânsitos de Saturno, por exemplo, têm influência decisiva na vida de cada um de nós. A análise dinâmica da influência deste planeta ajuda a compreender o foco central de uma vida, ao longo das suas várias etapas.  Este é apenas um exemplo e a boa astrologia tem muitas utilidades no planejamento de uma vida vista como processo de aprendizado espiritual.

 * Uma avaliação correta das nossas forças, qualidades e limitações é essencial para que possamos planejar com realismo. Escolha alguns amigos como conselheiros e testemunhas do seu esforço. Estabeleça um sistema de controle de qualidade dos seus esforços, através do diálogo com eles. 
 
A título de exemplo, faço a seguir o esboço de um esquema para possíveis metas pessoais.

Não se trata de um planejamento mecânico, mas de um exercício para despertar a consciência da sua responsabilidade sobre sua vida. Leve em conta que os prazos do planejamento devem incluir os vários ciclos do tempo: o dia, a semana, o ano, a década, até a vida inteira.  É claro que os objetivos definidos para os próximos doze meses serão diferentes das metas para os próximos sete anos ou a próxima década, mas todos são importantes como sinais visíveis da sua potencialidade interior. 

O sistema de metas também deve incluir os objetivos a serem alcançados até o final da vida, os quais   devem ser mais interiores do que externos.  O planejamento da vida inteira tem um papel importante no despertar da nossa alma imortal ― do nosso potencial maior ―  e também aumenta nossa eficácia no curto prazo. Mas devemos dar a nós próprios a liberdade de re-examinar e escrever com outras palavras, a cada ciclo de tempo, nossas metas de longo e de curto prazo.  

O fato de observar a mudança e a evolução dos nossos objetivos de longo prazo nos traz lições valiosas e revela aspectos fundamentais do nosso aprendizado.  Todo planejamento deve ser sempre objeto de exame crítico e de revisão periódica. É assim que ele se fortalece: permanecendo aberto aos fatos novos. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de possíveis metas em várias áreas da vida.

1) Metas Físicas.

A)Manter e melhorar a saúde.  Exemplos de ações: Aprender tai-chi-chuan? Caminhar pelo parque todo domingo? Andar de bicicleta? Melhorar a alimentação? De que modo?

B)Melhorar a situação econômica e material.   Exemplos de ações: fazer uma poupança mensal? Anotar, controlar e reduzir os gastos? Evitar novas dívidas? Comprar  bens? Quais?  Reformar a casa?  Sucesso financeiro?

2) Metas Profissionais.

A)Realizar certo objetivo naquela área específica. Exemplos de ações: abandonar alguma outra meta para concentrar mais energias nesta direção? É necessário investir dinheiro?  É possível construir parcerias? Quais?

B)Criar um planejamento estratégico no trabalho.  Exemplos de ações: avaliar a caminhada até aqui? Consultar amigos e colegas? Procurar alternativas e possibilidades de mudança na área profissional?

3) Metas Emocionais.

A)Mais harmonia naquele determinado relacionamento.  Ações: quais gestos de boa vontade (um não basta) podem ser feitos? Que nova atitude pode ser adotada? Que ações concretas para romper os hábitos e padrões negativos de ação e reação mútuas? Que novas maneiras de enfrentar as situações negativas que vêm se repetindo?

B)Mais paz interior. Ações: separar quanto tempo, em que horário, para estar regularmente sozinho consigo mesmo? Para planejar suas ações? Para escutar música?  Para ler bons livros e textos sobre teosofia, filosofia, psicologia?  Examine se você tem auto-estima suficiente para fazer isto.

4)  Metas Intelectuais.

A)Aprender um idioma. Ações: Matricular-se em um curso? Comprar um livro?

B)Fazer um curso, despertar uma nova habilidade qualquer. Ações: identificar e abandonar rotinas de desperdício de tempo que tornam aparentemente difícil realizar este potencial. 

C) Ler aquele livro que está na estante. Ações: separar uma hora para um exame sério do livro, e determinar, então, se sua leitura é prioritária. Caso ela seja, separar alguns minutos por dia para isto.

5) Metas Espirituais

A)Diminuir os compromissos, para ter mais tempo e poder vivenciar melhor a sabedoria eterna.  Possíveis ações: limitar os objetivos econômicos e externos e optar por uma vida simples, com menos complicações.

B)Meditar e refletir diariamente sobre a vida.  Com horário e método definidos, embora flexíveis. Ações: dormir mais cedo e assim levantar mais cedo, para meditar sem pressa antes de começar as atividades do dia. 

C)Estudar lenta e calmamente, todos os dias, escrituras sagradas de diversas religiões e  filosofias

Embora cada um deva fazer seu próprio esquema de metas, não há nada de errado em pedir a opinião de pessoas próximas, que querem sinceramente o nosso bem, ou que têm mais experiência e sabedoria. Ouvir opiniões não diminui nossa liberdade, mas amplia o horizonte e revela novos dados sobre como os outros nos vêem e sobre nossas possibilidades.  É algo que estimula um diálogo profundo e verdadeiro com os amigos. 

Todo ser humano cria sua própria felicidade e seu sofrimento, e faz isto de dois modos: consciente ou inconsciente.  O processo é consciente quando você assume o comando da sua vida, mas é inconsciente quando se deixa  arrastar pelas pressões externas e tendências de curto prazo.

O fato de você definir seus objetivos e escolher como prefere chegar até eles o colocará gradualmente no comando da sua vida e o tornará mais feliz. Você deixará de reclamar das situações, dos outros ou de si mesmo, e perderá a falsa sensação de que o tempo é “demasiado curto”. Na verdade, o  tempo só parece curto quando não está sendo bem usado.

Há três trunfos e três instrumentos básicos para aquele que ousa enfrentar o teste do tempo. Eles são:  A) um  objetivo de vida nobre; B) uma mente aberta, e   C) um coração perseverante.

Um quarto instrumento, igualmente significativo, é planejar o uso das suas forças. E este instrumento traz uma chave-mestra para o êxito e a felicidade.

De fato, uma das melhores maneiras de conhecer o futuro consiste não em “saber”, mas em  definir como ele será, naquilo que depende de você. E isso se faz com ajuda do bom planejamento e da ação correta.  O que se planta, se colhe, mais cedo ou mais tarde. 

O tempo é surpreendente e misterioso na sua passagem. Às vezes ele parece ser conservador, e outras vezes atua como um revolucionário. Ele pode evitar mudanças durante um longo período, apenas para fazê-las de modo mais profundo, depois.
Isto também ocorre na busca espiritual. Ela costuma ser lenta e árida durante muito tempo, até que chegue a hora de você colher ―  talvez, em um único instante ―  os bons frutos de todos os  esforços anteriores.  
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Texto originalmente publicado em www.FilosofiaEsoterica.com .

A Magia do Final de Ano


Como o Ciclo Solar Traz Iniciações,Grandes e Pequenas


Carlos Cardoso Aveline

O tempo é circular. Tudo o que ocorre ao longo dele é cíclico.  Cada final traz  um novo começo, e o modo como terminamos um ano das nossas vidas ajuda a definir como será, para nós,  o ano seguinte.

Um breve momento é resultado, e semente, de processos imensamente longos.   Segundo a filosofia esotérica, também cada ano que passa é um resumo de toda a nossa vida. O final de cada ciclo é oportuno para refletir sobre nossas vitórias e dificuldades, fazer um balanço – e renovar a decisão de  viver de maneira  sábia.

As quatro estações do ano correspondem de certo modo às quatro grandes etapas de uma vida humana. A segunda metade do inverno é a infância, que prepara a primavera da juventude. Por enquanto, tudo parece ajudar o nosso desenvolvimento pessoal: somos protegidos e educados, e as tendências da natureza conspiram a nosso favor.  Já na primavera e no verão, que correspondem ao período que vai da juventude à meia-idade, se dão os  grandes desafios e as principais realizações. Depois vem o outono, a primeira parte da velhice, quando é hora de recolher-se ao fundamental e de substituir com a sabedoria acumulada  a  força que falha cada dia mais. O ciclo termina com a  primeira metade do inverno, a  parte final da velhice. Esta é a época da grande renúncia,  da travessia de volta para o todo universal, de onde um dia viemos, e de onde no futuro  poderemos emergir novamente  para  uma outra forma de existência, sem nada lembrar  do ciclo anterior.

O que permite distinguir as quatro diferentes estações é o ciclo anual da distribuição da energia solar.  O sol é a grande fonte de vida material e espiritual em nosso planeta. O futuro de cada força vital depende diretamente da sua relação com ele. Muito mais que uma estrela física, o sol é na verdade o logos solar, a fonte espiritual de tudo o que ocorre em cada um dos seus planetas. Assim, o ciclo da luz solar em nosso planeta também constitui um mapa que assinala a longa jornada de cada alma humana,  com seus períodos de expansão e retração,  crescimento e decadência, morte e ressurreição.

“O ano místico”, escreveu o teosofista Gottfried de Purucker, “contém quatro pontos sazonais, e estas quatro estações, em seu ciclo,  simbolizam os principais eventos no progresso da alma imortal ao longo do caminho iniciático (de expansão da sabedoria). Primeiro, o solstício do inverno, que é chamado de Grande Nascimento e ocorre quando o aspirante faz com que nasça Deus dentro de si, e pelo menos durante algum tempo se mantém em unidade com o mundo divino em consciência e em sentimentos. Este é o nascimento do Buda interior, que surge do esplendor espiritual do sol, ou o nascimento do Cristo místico.” [1]

A palavra solstício, de origem latina, significa “sol imóvel”. No momento máximo do verão, o solstício é o momento em que a luz do sol pára de crescer, para voltar a diminuir, abrindo espaço para o outono. Já no auge do inverno, o solstício  indica o momento em que a luz do sol pára de diminuir, para voltar a crescer, preparando a primavera. O solstício do inverno é o momento da noite mais longa do ano, a partir do qual o sol passa a recuperar forças. Daí a idéia de nascimento, ou renascimento.  No hemisfério norte, este evento astronômico corresponde ao período do  Natal, porque os  cristãos adotaram para si a antiga Festa do Sol da tradição pagã.

No hemisfério sul, o solstício de inverno corresponde às nossas festas juninas. Nelas, o fogo noturno simboliza a luz do sol vencendo a noite. A imagem corresponde à  primeira grande iniciação. Há  um nascimento espiritual depois de um  longo período probatório em que o buscador da verdade foi duramente testado pela vida. Desperta o Cristo interior, ou seja, a intuição espiritual, a luz de Buddhi. No Novo Testamento, Jesus fala  (para o bom entendedor) da primeira iniciação  ao ensinar: “Em verdade lhes digo que, se não mudarem, e não se tornarem como as crianças, de modo algum entrarão no Reino dos Céus” (Mateus 18: 3-4). A imagem é clara:  o iniciado do primeiro grau é puro como uma criança. O foco da sua consciência nasceu no nível do eu imortal. Sua consciência pode ser ainda como uma criança indefesa, vivendo precariamente e ameaçada por Herodes (o egoísmo circundante); mas já nasceu e está colocada no centro da vida concreta, iluminando todas as coisas.

O segundo grande momento da jornada evolutiva da alma  avançada é simbolizado astronomicamente pelo equinócio da primavera, em que o dia e a noite têm forças e dimensões iguais, durante a fase crescente da luz. A palavra “equinócio” também tem origem latina e significa “noite igual”. No Brasil, o equinócio da primavera abre em setembro  a estação em que tudo floresce.

A terceira etapa se abre com o solstício do verão, que corresponde, no hemisfério sul,  ao nosso  Natal.  Aqui a duração do dia chegou ao seu ponto máximo e começa a abrir caminho para o outono. O  último grande evento do ciclo  é o equinócio do outono, quando a noite alcança o mesmo tamanho do dia, a caminho do inverno que simboliza a morte. Cada inverno, por sua vez, dará lugar a  um novo renascimento. 

A visão da jornada da alma humana imortal através de quatro grandes iniciações, até atingir a perfeição, é tão velha quanto a filosofia esotérica – e imensamente mais antiga que o cristianismo. Muitos séculos antes da era cristã,  a filosofia oriental já tinha nomes sânscritos para os estágios superiores do caminho espiritual. Uma quinta etapa, a “ressurreição de Cristo” é, na verdade,  o despertar   já no reino divino – do grande adepto, mahatma,  rishi ou sábio, que  teve sua condição humana “crucificada”, isto é,  se libertou da roda do renascimento obrigatório.  Esta é  a  quinta grande iniciação.

Vale a pena examinar o que ensina a tradição esotérica. A primeira grande iniciação, srotapatti, é marcada pela total ausência de egoísmo no coração do ser humano.  A humildade, simbolizada na linguagem cristã pela pobre manjedoura,  assinala a ausência de orgulho ou egocentrismo. A presença de vários animais em torno do menino Jesus simboliza a comunhão essencial do iniciado com todos os seres. As estrelas no céu mostram que esta unidade fundamental inclui o universo inteiro.  As forças poderosas mobilizadas para uma tentativa de frustrar o seu nascimento simbolizam as provações e testes que a alma deve vencer. Refletem, também, o fato de que uma grande iniciação é um momento de fragilidade e vulnerabilidade, do ponto de vista do mundo externo.

Já a segunda iniciação, sakridagamin, corresponde ao surgimento de um forte intelecto a serviço do coração. É o equinócio da primavera, que traz o predomínio crescente  da luz.  Na vida de Cristo,  corresponde ao momento em que o menino Jesus prega aos doutores no templo (Lucas, 2: 46-49). É o despertar da mente superior, manas,  a inteligência livre das aparências,  ágil, eclética, capaz de ver com clareza a mesma verdade essencial em todas as boas religiões, ciências e filosofias. Para o iniciado do segundo grau,  o pensamento positivo e a ação solidária surgem naturalmente do fato de que ele percebe,  sem qualquer esforço, o total domínio da  Lei do Equilíbrio sobre a realidade aparente, cujas numerosas armadilhas só enganam o ingênuo e o “astucioso”.  Se a primeira iniciação faz  enxergar toda vida do ponto de vista da bondade, a segunda coloca uma inteligência de grande poder a serviço do amor altruísta. É a primavera iluminando o mundo.

A terceira iniciação, anagamin, corresponde, como vimos,  ao solstício de verão. O sol chegou ao  auge e passa a preparar-se  para a sua grande renúncia. Na vida de Jesus, é a Transfiguração (Mateus, l7). Num alto monte, o rosto de Jesus “resplandece como o sol”. Em seguida, ele percebe todo o sofrimento que o futuro lhe reserva, sua própria morte e a ressurreição (Mt l7: 22-23). Ao assumir a iniciaçãoanagamin, a alma toma uma firme decisão de ir até o final no doloroso sacrifício da sua condição humana, sabendo que o processo  culminará na crucificação da sua personalidade ou aniquilação do seu eu inferior, para que possa renascer no mundo divino.

A quarta iniciação, de arhat, corresponde astronomicamente ao equinócio de outono, e, na vida de Jesus, à crucificação. É a chegada da morte, ou inverno, o que possibilitará  o renascimento ou ressurreição além dos limites do universo conhecido. Aqui a alma morre definitivamente para as experiências do reino humano. A quinta iniciação, aseka, corresponde à ressurreição. O adepto, o mahatma, o rishi, o Imortal –  simbolizado por Jesus no Novo Testamento –  ressurge em um reino superior ao humano e  está livre do sofrimento tal como o conhecemos,  mas ainda guia nossas almas no caminho do bem.
Há pelo menos duas conclusões práticas a serem tiradas desta jornada mágica das almas mais evoluídas da nossa humanidade.

A primeira delas é que podemos preparar-nos desde já para metas divinas, mesmo que elas sejam distantes. Esta opção terá efeitos positivos imediatos em nossa vida. No momento atual da evolução humana,  os espiritualistas não-dogmáticos –  capazes de  aproveitar  o que há de melhor em diferentes  religiões, ciências e filosofias – podem preparar-se ativamente para a primeira grande iniciação. Mas não convém ter muita pressa. A ignorância espiritual só desaparece aos poucos, e o processo preliminar  requer, sem dúvida, várias vidas.

Segundo a filosofia esotérica, a alma humana não interrompe seu aprendizado espiritual ao final de uma única existência. Ela  renasce repetidamente para ganhar mais experiência e avançar em direção à luz, até  alcançar  a proficiência – o “adeptado” –  e completar o ciclo evolutivo do reino humano. A cada nova encarnação, o aprendizado espiritual é  retomado no ponto em que se interrompeu na vida anterior, embora  as circunstâncias externas possam ser completamente diversas. Depois haverá outra encarnação,  e  outra,  até as várias iniciações. Finalmente  virá a  libertação definitiva  das limitações humanas. Na visão integral e transcendente proposta pela filosofia esotérica,  a  vida no planeta Terra constitui uma única e grande onda evolucionária que faz parte da  vida mais ampla do cosmo. Em nosso  pequeno jardim planetário, as vidas  vegetais estão a caminho do reino animal. As almas dos animais estão a caminho do reino humano. Do mesmo modo,  nossas almas humanas avançam,  lentamente,  em direção ao  mundo divino. Assim é que circula  a luz divina  pelo universo, reciclando eternamente espírito e matéria.

Preparar-se para a primeira grande iniciação, srotapatti, é abrir terreno para o Natal Interior,  isto é, o nascimento de Cristo em nosso próprio coração. Porque, se não encontrarmos o Mestre dentro de nós, “é inútil procurar em outra parte”, como ensina o livro “Luz no Caminho” [2]. Este é o caminho da purificação. É desenvolver a humildade necessária para, primeiro, observar serenamente o movimento do egoísmo dentro de nós, e depois libertar-nos passo a passo do emaranhado de interesses e preocupações egocêntricos, colocando-nos a serviço da verdade e da justiça em todas as dimensões da vida. Assim,  aprendemos a identificar-nos com a vida maior e não com a vida pequena ou os impulsos animais de busca de segurança e fuga das expectativas de dor.

A segunda conclusão prática é que a história do Novo Testamento simboliza a vida de todos nós. De  certa forma, podemos viver  hoje, em  nossas vidas diárias,  amostras pequenas, mas poderosamente inspiradoras, do significado das cinco grandes iniciações. Os mistérios eternos estão sempre ao nosso lado, prontos para a eventualidade de despertarmos, e inspirando-nos em tudo o que é possível. Quem sabe se agora não é o momento?

Ao final de cada ano ou de cada etapa em nossas vidas, seja ela grande ou pequena, podemos fazer um inventário  e perguntar-nos pela nossa capacidade de nascer e renascer a cada dia como crianças livres do passado e  dos processos de  rancor, ódio, cobiça e outros sentimentos negativos. Como vive a criança divina em nosso interior? Ainda sabemos renascer?

É possível antecipar algo da segunda iniciação e avaliar, periodicamente, como anda nossa coragem de buscar a verdade, de olhar a realidade além das nossas opiniões e idéias fixas prediletas, de estudar coisas novas e abrir rumos renovadores à nossa vida intelectual, optando pela inteligência do coração e não pela astúcia da mente egoísta.   É possível, nos  aspectos da vida em que já podemos ver o anúncio do outono e do inverno, tomar uma firme decisão de renunciar a tudo o que não é de fato nosso, e a cooperar com a vida mesmo quando ela não nos beneficia dando coisas agradáveis, mas nos ensina pelo caminho do desapego e do sacrifício. Assim estaremos vivendo, hoje mesmo, uma parcela infinitamente pequena, mas útil, da terceira iniciação.

Podemos avaliar também as várias e dolorosas “crucificações” que já vivemos nesta vida. Quantos desesperos e derrotas? E quantas lições aprendidas? Qual nossa atitude quando experimentamos  crucificações,  traições e injustiças? Permanecemos no território da verdade, da ética e do amor altruísta?  E quantas vezes, depois da tempestade  e da cruz, veio a bonança da ressurreição? Quantas vezes uma nova etapa da vida, primaveril, cheia de promessas e potencialidades, abriu-se inesperadamente diante de nós, apenas porque havíamos sabido sofrer sem ódio ou desespero?  A ressurreição é um Natal em um nível mais elevado, assim como o Natal é a promessa da ressurreição total a que nossa alma terá direito um dia. 

Por outro lado, o Natal ocorre pouco antes do Ano Novo. Essa proximidade parece refletir sincronicamente o fato de que o nascimento de uma nova consciência, mais sábia, sempre nos abre a possibilidade de um novo começo prático em nossas vidas. Assim, o melhor presépio está em nossos corações e mentes. É ali que acontece, a cada dia, o milagre do nascimento. E da iniciação.

NOTAS:

[1] “The Four Sacred Seasons”,  de Gottfried de Purucker, Theosophical University Press, Califórnia, EUA, pp. 42 a 45 e  73 e seguintes. Veja também o “Dictionary of All Scriptures & Myths”, de G. A. Gaskell, Gramercy Books, Nova Iorque, EUA.

[2] “Luz no Caminho”, Mabel Collins, Editora Teosófica, Brasília.
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Texto originalmente publicado em www.FilosofiaEsoterica.com

sábado, 22 de dezembro de 2012

Para Alcançar a Felicidade

Uma Seleção de Textos Sobre a
Eliminação das Causas do Sofrimento





Carlos Cardoso Aveline



Todos os seres buscam a plenitude e tentam caminhar na direção daquilo que consideram bem-aventurança.   

Nem todos fazem isso com igual sabedoria.

Alguns, ao procurar por satisfação num sentido exclusivo, geram sofrimento desnecessário para si próprios e para os outros.

Aqueles que renunciam ao egoísmo e aos seus jogos mentais de auto-ilusão apenas deixam de mentir para si mesmos. Eles encontram a felicidade na vida simples, na gratidão e na sabedoria.  Controlam  a si mesmos, ao invés de pretender controlar a vida.

Seguramente não há uma fórmula óbvia de felicidade que sirva igualmente para todos.  O caminho da plenitude deve começar onde a pessoa está. O indivíduo precisa conhecer a si mesmo, ouvir sua própria alma e caminhar por esforço independente na direção correta. Nisso, perseverança  é indispensável.  Ele deve “erguer a sua Cruz”, assumir o seu carma, e seguir o Caminho dos Sábios. Este é um caminho estreito e íngreme. Não faltam desafios.  Firmeza é recomendável, porque de nada adianta caminhar numa direção pela manhã, e noutra direção oposta, à tarde.

A teosofia ensina o mistério transcendente daquele bem-estar interior e incondicional que surge do contato ampliado do indivíduo com sua própria alma espiritual, e com as leis do universo.

Quando isso acontece, os sofrimentos externos perdem importância. A felicidade surge então como a luz brilhante de um pequeno sol. Ela se irradia de dentro para fora em todas as direções, mostrando o que é belo e o que não é belo em si e nos outros. A perseverança na ação correta consolidará a paz.  

Para facilitar a descoberta gradual deste caminho de bem-aventurança, listamos a seguir 17 textos selecionados do acervo de  www.FilosofiaEsoterica.com . Todos eles podem ser encontrados no site através da Lista de Textos por Ordem Alfabética.   

Os artigos mostram diferentes aspectos da calma mudança alquímica - uma transformação quase imperceptível no curto prazo - pela qual o ser humano se liberta das causas do sofrimento. 

Existe uma agricultura do espírito.  O que se planta, se colhe. Antes de colher, portanto, é preciso semear: e isso não basta. É recomendável cuidar silenciosamente, durante muito tempo, daquilo que se semeou. O altruísmo é a chave-mestra da libertação. A teosofia ensina a plantar.



 


1) Bondade Moral e Felicidade
A Filosofia Ensina a Maneira Correta de Viver

2) O Poder da Amizade
Todo Progresso é Resultado de Cooperação

3)  Uma Batalha Diária
A Ponte Para Uma Bênção Infinita Pode Ser Encontrada no Ciclo de 24 Horas

4) Desfazendo Impressões Erradas
Um Estudo Sobre Eu Inferior e Otimismo na Busca da Sabedoria

5) As Oportunidades Diante de Nós
A Arte de Enxergar Lições em Toda Parte

6) Auto-Sacrifício Traz Felicidade?
O Eu Superior Produz Uma Satisfação Interna e Essencial Diante da Vida

7) Duas Orações Pela Paz
A Essência Universal da Tradição Judaica

8) Oração Para Aqueles que Curam
Com um Comentário de um Ponto de Vista Teosófico

9) Felicidade Aqui e Agora
O Bem-Estar Como Uma Questão Prática

10) O Lado Luminoso de Saturno
Inspirador da Antiga Idade de Ouro, o Planeta dos Anéis é Co-Regente da Era de Aquário

11) A Essência do Futuro Humano
Um Conhecimento Adequado da Lei do Carma Levará a Humanidade à Felicidade Suprema

12) O Otimismo e a Filosofia Esotérica
A Teosofia Original Ensina a Confiar no Futuro

13) O Propósito da Vida
Fragmento de um Texto

14) A Magia Prática do Caminho Teosófico
Sobre o Ritmo Em Que Ocorre o Despertar Interior 

15) A Humanidade Está Em Construção
A Vida Tal Como a Conhecemos é Apenas a Matéria-Prima Para a Vida Como Ela Pode Ser

16) O Ritmo do Coração da Vida
A Expansão e a Retração São Igualmente Necessárias Para a Arte de Viver

17) Sabedoria, Felicidade e Contentamento
A Bem-Aventurança Ocorre No Nível da Consciência Universal

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Os artigos listados  acima podem ser localizados através da Lista de Textos por Ordem Alfabética, em www.FilosofiaEsoterica.com .  


Para ter acesso a um estudo diário da teosofia original, escreva a  lutbr@terra.com.br  e pergunte como é possível acompanhar o trabalho do e-grupo SerAtento.

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